Discipulador: seis coisas que não deve fazer no discipulado

A grande comissão de Jesus, registrada em Mateus 28:19-20, não deixa margem para dúvidas:
“Portanto, indo, fazei discípulos (μαθητεύσατε, mathēteúsate) de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado.”
O verbo grego μαθητεύω ( mathēteúō ) significa mais do que ensinar; carrega a ideia de “formar aprendizes que seguem o Mestre em estilo de vida e obediência”.
Assim, o discipulado não é uma atividade opcional, mas a própria missão da Igreja e a essência do cristianismo prático.
Entretanto, o papel do discipulador nessa missão é delicado e requer discernimento espiritual.
Quando o discipulado perde sua centralidade em Cristo, ele pode se transformar em algo distorcido: uma relação terapêutica, um processo de clonagem de personalidades, um espaço de manipulação, uma amizade superficial, um vínculo de dependência emocional ou até um ambiente contaminado pela fofoca.
A Bíblia nos mostra que o verdadeiro discipulado deve apontar para Cristo como único modelo:
- Paulo declarou: “Meus filhinhos, por quem de novo sinto as dores de parto, até que Cristo seja formado (μορφόω, morphóō ) em vós” (Gl 4:19).
- O alvo não é copiar homens, mas ser “conformes (συμμόρφους, symmorphous ) à imagem do Filho” (Rm 8:29).
- A maturidade não vem pela dependência de líderes, mas pela confiança plena no Senhor: “Bendito o homem que confia (בָּטַח, bātach ) no Senhor” (Jr 17:7).
Por isso, o discipulador deve exercer seu chamado com humildade, vigilância e temor diante de Deus, evitando seis erros que comprometem o processo de formação espiritual:
- Transformar o discipulado em terapia — reduzindo-o a desabafo, em vez de formação de Cristo.
- Clonar sua própria personalidade — criando cópias humanas em vez de discípulos de Jesus.
- Manipular ou abusar da autoridade — controlando vidas, em vez de servir como exemplo.
- Reduzir o discipulado a amizade superficial — mantendo apenas convivência social, sem ensino e exortação.
- Gerar dependência emocional — prendendo o discípulo ao líder, em vez de guiá-lo à maturidade em Cristo.
- Permitir fofoca — desviando o foco do crescimento pessoal para críticas e maledicências.
Neste Refrigério Teológico, vamos refletir detalhadamente sobre cada um desses seis perigos, à luz das Escrituras.
O objetivo não é apenas alertar contra erros, mas capacitar discipuladores a exercerem seu chamado de forma bíblica, saudável e frutífera , formando discípulos centrados em Cristo e capazes de também discipular outros (II Tm 2:2).
Olá, graça e paz, aqui é o seu irmão em Cristo, Pr. Francisco Miranda do Teologia24horas, que essa “paz que excede todo entendimento, que é Cristo Jesus, seja o árbitro em nosso coração, nesse dia que se chama hoje…” (Fl 4:7; Cl 3:15).
O discipulador não deve transformar o discipulado em terapia
Um erro recorrente na prática do discipulado é reduzir esse processo divino a um espaço de desabafo ou sessão terapêutica.
Embora ouvir com empatia faça parte da caminhada cristã, o discipulado não pode ser confundido com psicoterapia.
A terapia lida com o bem-estar emocional; o discipulado lida com a formação de Cristo no discípulo, algo infinitamente mais profundo e eterno.
O apóstolo Paulo expressa esse propósito em Gálatas 4:19: “Meus filhinhos, por quem de novo sinto as dores de parto, até que Cristo seja formado em vós.”
Aqui, o verbo grego μορφόω (morphóō, “dar forma, moldar interiormente”) transmite a ideia de um processo contínuo de transformação espiritual.
O discipulador não atua como psicólogo, mas como cooperador de Deus (1Co 3:9), sendo instrumento para que o discípulo seja moldado “conforme à imagem de seu Filho” (Rm 8:29).
O discipulado, portanto, não se limita a aliviar tensões emocionais, mas visa a uma metamorfose espiritual.
O termo grego μεταμορφόω (metamorphóō, “transformar, transfigurar”) , usado em Romanos 12:2 e 2 Coríntios 3:18, reforça que essa transformação é operada pelo Espírito Santo à medida que o discípulo se expõe à Palavra.
Jesus mesmo declarou em João 8:31-32: “Se vós permanecerdes na minha palavra, verdadeiramente sereis meus discípulos; e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.”
O discipulado liberta porque a Palavra é aplicada pelo Espírito; não porque o discipulador atua como terapeuta.
No Antigo Testamento, a ideia de formação espiritual está ligada ao verbo hebraico יָצַר (yatsar, “formar, modelar como o oleiro”) , usado em Gênesis 2:7: “E formou (יָצַר) o Senhor Deus o homem do pó da terra, e soprou em suas narinas o fôlego da vida.”
Assim como Deus moldou o homem no Éden, o discipulador participa do processo de modelagem espiritual do discípulo, mas quem dá vida e sentido é o sopro do Espírito (Ez 37:5-6).
Exemplos bíblicos
- Jesus, no caminho de Emaús (Lc 24:27), não ofereceu um espaço de desabafo, mas expôs as Escrituras para que os corações dos discípulos ardessem.
- Paulo, ao discipular Timóteo, não focou em alívio emocional, mas em firmeza doutrinária: “Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste e de que foste inteirado” (2Tm 3:14).
Aplicação prática
O discipulador deve ouvir com compaixão, pois o amor é parte essencial do ministério (1Co 13:7).
Contudo, sua missão não é apenas consolar, mas conduzir o discípulo à cruz de Cristo e ao poder transformador da Palavra.
O discipulador que transforma o discipulado em terapia impede o crescimento espiritual, pois mantém o discípulo preso às suas emoções, em vez de libertá-lo pela verdade.
Assim, o discipulador deve sempre redirecionar o discípulo para:
- A oração – que alinha o coração com Deus (Fp 4:6-7).
- A Palavra – que ilumina o caminho (Sl 119:105).
- A ação do Espírito Santo – que santifica e molda a vida (2Ts 2:13).
O discipulador não deve clonar sua própria personalidade
Um erro grave e sutil no processo de discipulado é quando o discipulador tenta reproduzir em seus discípulos a sua própria personalidade, estilo ou preferências pessoais, em vez de conduzi-los a refletirem Cristo.
Esse desvio ocorre quando o discipulador confunde liderança espiritual com autopromoção, formando seguidores de si mesmo e não de Jesus.
O apóstolo Paulo, consciente desse risco, estabelece um princípio fundamental em 1 Coríntios 11:1:
“Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo.”
O termo grego usado aqui é μιμηταί ( mimētai ) , que significa “imitadores”, de onde vem a nossa palavra “mímica”.
O conceito não é a cópia mecânica da pessoa de Paulo, mas a reprodução do caráter de Cristo visível em sua vida. Ou seja, o discipulador só é exemplo na medida em que ele próprio segue o padrão de Cristo.
Esse princípio é reiterado em 1 Tessalonicenses 1:6: “E vós fostes feitos imitadores (μιμηταί, mimētai ) de nós e do Senhor, recebendo a palavra em muita tribulação, com gozo do Espírito Santo.”
Aqui, vemos que a imitação não é centrada em Paulo ou em Silas, mas no Senhor, com a mediação do exemplo apostólico.
No Antigo Testamento, encontramos a mesma lógica na relação entre Moisés e Josué. Josué não foi chamado a ser uma “cópia” de Moisés, mas a ser fiel à lei de Deus:
“Tão-somente esforça-te e tem muito bom ânimo, para teres o cuidado de fazer conforme toda a lei que meu servo Moisés te ordenou; dela não te desvies, nem para a direita nem para a esquerda, para que prudentemente te conduzas por onde quer que andares” (Js 1:7).
A referência de Josué não era a personalidade de Moisés, mas a Palavra revelada por Deus.
Dimensão Cristológica
O discipulado deve conduzir sempre ao alvo da formação da imagem de Cristo.
Paulo afirma em Romanos 8:29: “Porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos.”
O verbo grego συμμόρφους ( symmorphous ) , traduzido como “conformes”, expressa que o processo discipular é de conformação à imagem de Cristo, não à do discipulador. Esse é o destino espiritual de cada crente.
Jesus mesmo estabeleceu o princípio de que há um só Mestre : “Vós, porém, não queirais ser chamados Rabi, porque um só é o vosso Mestre, a saber, o Cristo, e todos vós sois irmãos” (Mt 23:8).
Isso significa que a autoridade última no discipulado é Cristo, e o discipulador é apenas um instrumento.
Riscos do discipulado centrado no homem
Quando o discipulador tenta clonar sua personalidade, surgem alguns perigos:
- Idolatria da liderança – discípulos passam a seguir mais o homem do que a Cristo (1Co 3:4).
- Dependência do estilo humano – preferências culturais e pessoais do discipulador se tornam “doutrina”, em vez da Palavra de Deus.
- Anulação da diversidade do corpo – Paulo ensina que há diversidade de dons e ministérios (1Co 12:4-6). Clonar personalidades destrói a riqueza dessa diversidade.
Aplicação prática
O discipulador precisa compreender que seu papel não é reproduzir sua própria imagem , mas apontar continuamente para a imagem de Cristo.
Seu estilo, dons e preferências podem servir de inspiração, mas jamais devem se tornar padrão absoluto. O discipulador deve, portanto:
- Ensinar seus discípulos a andar em Cristo (Cl 2:6).
- Incentivar o desenvolvimento de dons pessoais (1Pe 4:10).
- Lembrar que cada discípulo tem uma identidade única em Cristo (Sl 139:14).
Assim, o discipulador não cria clones de si mesmo, mas cooperadores no Reino que refletem a multiforme graça de Deus (1Pe 4:10).
O discipulador não deve manipular nem abusar de autoridade
O discipulado cristão deve ser marcado pela liberdade em Cristo e pelo serviço mútuo em amor, nunca pela manipulação ou pelo abuso de autoridade.
Infelizmente, em muitos contextos, o papel do discipulador é distorcido, transformando-se em uma relação de controle pessoal e não em um processo de edificação espiritual.
Jesus advertiu os discípulos sobre esse risco em Lucas 22:25-26: “Os reis dos gentios dominam (κατακυριεύουσιν, katakyrieuousin) sobre eles, e os que exercem autoridade sobre eles são chamados benfeitores. Mas entre vós não será assim; antes, o maior entre vós seja como o menor; e quem governa seja como quem serve.”
O verbo grego κατακυριεύω ( katakyrieuō ) significa “exercer domínio absoluto, subjugar, controlar com tirania”.
Jesus deixa claro que o discipulado cristão não deve se basear em estruturas de poder opressor, mas em serviço humilde.
Essa advertência ecoa o ensino de Pedro aos presbíteros em 1 Pedro 5:2-3: “Apascentai o rebanho de Deus que está entre vós, tendo cuidado dele, não por força, mas voluntariamente; nem por torpe ganância, mas de ânimo pronto; nem como tendo domínio (κατακυριεύοντες, katakyrieuontes) sobre a herança de Deus, mas servindo de exemplo ao rebanho.”
Aqui, mais uma vez, Pedro condena o uso abusivo da autoridade espiritual, ressaltando que o discipulador deve ser exemplo (τύπος, typos ) , e não tirano.
O modelo bíblico de liderança
No Antigo Testamento, o padrão de liderança estabelecido por Deus não era de manipulação, mas de cuidado.
O termo hebraico רָעָה ( ra‘ah ) , usado para “apascentar, pastorear” (Sl 23:1 – “O Senhor é o meu Pastor”), transmite a ideia de conduzir com amor, alimentar e proteger.
Esse é o paradigma que o discipulador deve seguir.
Ezequiel 34 traz uma denúncia severa contra os líderes de Israel que exploravam o rebanho:
“Ai dos pastores de Israel, que se apascentam a si mesmos! Não devem os pastores apascentar as ovelhas?” (Ez 34:2).
O discipulador que manipula ou abusa de autoridade repete o erro dos maus pastores de Israel, que pensavam em seu próprio proveito em vez de cuidar do povo de Deus.
Exemplos práticos de abuso espiritual
- Controle excessivo – quando o discipulador decide detalhes da vida pessoal do discípulo (roupas, amizades, lazer, casamento).
- Exploração material – quando se exige contribuições ou serviços em benefício próprio, sem respaldo bíblico.
- Dependência forçada – quando o discipulador impede o discípulo de amadurecer em Cristo para mantê-lo preso à sua liderança.
Todos esses comportamentos ferem a liberdade do Evangelho, pois em Cristo “para a liberdade foi que Cristo nos libertou” (Gl 5:1).
O padrão de Cristo
O verdadeiro discipulador deve seguir o exemplo do Mestre: “Pois o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate de muitos” (Mc 10:45).
O verbo grego διακονέω ( diakoneō ) , traduzido como “servir”, é a essência da liderança cristã.
O discipulador não existe para manipular, mas para se doar.
Paulo confirma isso em 2 Coríntios 4:5: “Porque não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo Jesus, o Senhor; e nós mesmos somos vossos servos (δοῦλοι, douloi) por amor de Jesus.”
Aplicação prática
O discipulador deve constantemente avaliar se sua liderança está moldada pelo espírito de serviço de Cristo ou contaminada pelo desejo de controle.
Algumas práticas saudáveis são:
- Apontar sempre para a soberania de Cristo, e não para si mesmo (Cl 1:18).
- Estimular a independência espiritual do discípulo, para que aprenda a ouvir a voz de Deus (Jo 10:27).
- Ser exemplo de humildade, servindo em amor, e não impondo fardos (Gl 5:13).
Assim, o discipulador não manipula nem abusa de autoridade, mas coopera com o Espírito Santo na edificação de discípulos que refletem Cristo, o verdadeiro Pastor.
O discipulador não deve reduzir o discipulado a amizade superficial
A amizade é um componente precioso na relação entre discipulador e discípulo, mas não pode ser o fundamento exclusivo do discipulado.
Quando o vínculo se limita apenas à socialização, o discipulado perde sua essência de transformação espiritual.
Jesus afirmou em João 15:15: “Já vos não chamarei servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas tenho-vos chamado amigos (φίλους, philous), porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho feito conhecer.”
O termo grego φίλος ( phílos ) significa “amigo íntimo, alguém amado”.
Cristo chama os discípulos de amigos porque compartilha com eles a revelação do Pai.
A amizade, portanto, nasce da transparência espiritual e do compartilhamento da Palavra , não apenas de afinidade humana.
Contudo, antes de chamá-los de amigos, Jesus os chamou ao compromisso radical da cruz: “Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (Mc 8:34).
O discipulado não é sustentado por emoções, mas pelo custo do discipulado .
O perigo da amizade superficial
Quando o discipulado se resume a encontros sociais, jantares, passeios ou conversas sem confronto espiritual, corre-se o risco de cair em uma amizade sem discipulado .
Paulo advertiu Timóteo sobre essa tentação, lembrando-o de que a função pastoral inclui:
“Prega a palavra, insta a tempo e fora de tempo, admoesta, repreende, exorta com toda longanimidade e doutrina” (2Tm 4:2).
O discipulador que se contenta apenas com amizade não exerce sua responsabilidade de exortar (παρακαλέω, parakaléō – “chamar para perto a fim de encorajar, exortar, consolar”).
Hebreus 10:24-25 nos lembra: “Consideremo-nos uns aos outros, para nos estimularmos (παροξυσμός, paroxysmós – “provocar, incitar”) ao amor e às boas obras, não deixando a nossa congregação, como é costume de alguns, antes admoestando-nos uns aos outros.”
Exemplos bíblicos
- Moisés e Josué : havia amizade e proximidade, mas acima disso havia mentoria espiritual . Josué foi treinado para liderar o povo na presença de Deus (Êx 33:11).
- Elias e Eliseu : não havia apenas convivência, mas transmissão de unção e propósito (2Rs 2:9-10).
- Paulo e Timóteo : Paulo chama Timóteo de “meu verdadeiro filho na fé” (1Tm 1:2), mostrando que o discipulado é mais profundo que amizade — é paternidade espiritual.
Fundamento etimológico
No hebraico, o termo חָבֵר ( chaver ) significa “companheiro, amigo próximo”.
Mas em Provérbios 27:17 lemos: “Como o ferro com ferro se afia, assim o homem afia o rosto do seu amigo (חָבֵר).” Ou seja, a verdadeira amizade bíblica envolve afiar, confrontar, edificar.
O discipulador que se limita a superficialidades nega o propósito de Deus para a relação discipular.
Aplicação prática
O discipulador deve, sim, cultivar amizade genuína, pois ela gera confiança e proximidade.
Porém, essa amizade deve ser veículo para algo maior: a formação de Cristo no discípulo .
Assim, o discipulador precisa:
- Amar (Jo 13:34-35) — demonstrar graça e cuidado.
- Ensinar (Mt 28:20) — transmitir a Palavra de forma clara.
- Exortar (Hb 10:24) — provocar crescimento espiritual.
- Confrontar em amor (Ef 4:15) — corrigir quando necessário.
Portanto, o discipulador não pode reduzir o discipulado a amizade superficial.
Ele deve ser amigo, mas sobretudo mentor espiritual , conduzindo o discípulo ao crescimento constante, ao serviço no Reino e à maturidade em Cristo (Ef 4:13).
O discipulador não deve gerar dependência emocional
Um dos maiores perigos no processo do discipulado é quando o discipulador prende o discípulo a si mesmo em vez de direcioná-lo a Cristo.
O discipulado bíblico não cria dependentes emocionais, mas conduz homens e mulheres à maturidade espiritual, tornando-os firmes na fé e capazes de ouvir a voz de Deus por si mesmos.
O discipulado saudável aponta para a autonomia espiritual no Espírito Santo.
O próprio apóstolo Paulo declara em 2 Coríntios 1:24: “Não que tenhamos domínio (κυριεύομεν, kyrieuomen, “exercer senhorio, controlar”) sobre a vossa fé, mas porque somos cooperadores (συνεργοί, synergoí) de vosso gozo; porque pela fé estais em pé.”
Paulo deixa claro que o discipulador não deve assumir o lugar de Cristo, mas apenas cooperar com a fé do discípulo.
Dependência de Deus, não de homens
O profeta Jeremias proclama: “Bendito o homem que confia no Senhor, e cuja esperança é o Senhor” (Jr 17:7).
O verbo hebraico usado para “confiar” é בָּטַח ( bātach ) , que significa “depender com segurança, apoiar-se com confiança total”.
O discipulador deve ensinar o discípulo a ter essa confiança plena em Deus, e não em homens falíveis.
No Novo Testamento, Paulo aponta para essa mesma realidade: “Assim que, ninguém se glorie nos homens; porque tudo é vosso” (1Co 3:21).
A centralidade do discipulado é Cristo, e não o líder humano.
O exemplo de João Batista
João Batista é um exemplo de discipulador que não gerou dependência emocional em seus discípulos. Quando Jesus apareceu, ele declarou: “Convém que ele cresça, e que eu diminua” (Jo 3:30).
O discipulador fiel não centraliza os olhares em si, mas ensina o discípulo a fixar os olhos em Jesus, “autor e consumador da fé” (Hb 12:2).
O alvo do discipulado: maturidade em Cristo
Efésios 4:13 afirma que o propósito do ministério na Igreja é que todos cheguem à “unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, a homem perfeito, à medida da estatura completa de Cristo.”
O termo grego τέλειος ( téleios ) significa “maduro, completo”. O discipulador que mantém seus discípulos dependentes de sua aprovação ou presença pessoal impede esse processo de maturidade.
Paulo também alerta em Gálatas 1:10: “Porventura procuro eu agora o favor dos homens, ou de Deus? Ou procuro agradar a homens? Se estivesse ainda agradando aos homens, não seria servo de Cristo.”
O discipulador deve ser instrumento para conduzir o discípulo à obediência de Cristo, e não à sua própria aprovação.
Aplicação prática
O discipulador precisa:
- Ensinar o discípulo a ouvir a voz de Deus (Jo 10:27).
- Orientar decisões pela Palavra e oração (Sl 119:105; Fp 4:6-7).
- Apontar sempre para Cristo como referência final (Cl 2:6-7).
- Evitar tornar-se mediador indevido , lembrando que há um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo (1Tm 2:5).
Quanto mais dependente de Cristo o discípulo se tornar, mais bem-sucedido terá sido o discipulado.
O discipulador deve alegrar-se quando vê seus discípulos caminhando com firmeza na fé, como declarou João: “Não tenho maior gozo do que este: o de ouvir que os meus filhos andam na verdade” (3Jo 4).
O discipulador não deve permitir fofoca
Entre os erros mais prejudiciais ao discipulado está a tolerância com a fofoca.
O discipulador é chamado a proteger o ambiente do discipulado contra toda contaminação da maledicência, pois onde a fofoca encontra espaço, a unidade do Corpo de Cristo é enfraquecida e o propósito do discipulado é desviado.
A Escritura é clara em condenar a prática da fofoca.
Em Levítico 19:16, lemos: “Não andarás como mexeriqueiro (רָכִיל, rakíl) entre o teu povo.”
O termo hebraico רָכִיל ( rakíl ) significa “fofoqueiro, difamador, aquele que espalha boatos”.
A lei do Senhor proibia terminantemente a fofoca porque ela destrói relacionamentos e corrompe a santidade comunitária.
O livro de Provérbios também adverte: “O mexeriqueiro revela o segredo; mas o fiel de espírito o encobre” (Pv 11:13).
Aqui, o contraste é entre o mexeriqueiro e o fiel de espírito .
O primeiro espalha informações alheias sem sabedoria; o segundo pratica a confidencialidade e o amor, cobrindo o próximo em vez de expô-lo (1Pe 4:8).
No Novo Testamento, o apóstolo Paulo coloca a fofoca entre os pecados da carne: “Pois eu receio que, quando for, não vos ache tais como eu quero, e que eu seja achado de vós tal como não quereis; que haja contendas, invejas, iras, porfias, detrações (καταλαλιαί, katalaliai), murmurios, soberbas, tumultos” (2Co 12:20).
O termo grego καταλαλιά ( katalalia ) significa “falar mal de alguém, difamação maliciosa”.
É usado em contextos de destruição da comunhão e está associado à obra da carne, não do Espírito.
Tiago também adverte severamente contra esse pecado: “Irmãos, não faleis mal (καταλαλεῖτε, katalaleite) uns dos outros” (Tg 4:11).
A língua, segundo Tiago, é “um mundo de iniquidade” (Tg 3:6), capaz de incendiar relacionamentos e comprometer a espiritualidade de uma comunidade inteira.
A postura do discipulador diante da fofoca
O discipulador deve imitar Cristo, que jamais se alimentou de boatos, mas sempre tratou diretamente com a verdade e a pessoa envolvida.
O Senhor ensinou um princípio relacional em Mateus 18:15: “Se teu irmão pecar contra ti, vai e repreende-o entre ti e ele só; se te ouvir, ganhaste a teu irmão.”
Esse princípio impede a fofoca e fortalece a reconciliação.
Além disso, Paulo orienta os efésios: “Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, mas só a que for boa para promover a edificação, para que dê graça aos que a ouvem” (Ef 4:29).
Aqui, o discipulado é lembrado de que a fala deve ser instrumento de graça, nunca de destruição.
Aplicação prática
O discipulador deve:
- Redirecionar conversas negativas para a reflexão pessoal, sempre perguntando: “O que você precisa mudar?”
- Confrontar o pecado da fofoca com a verdade em amor (Ef 4:15).
- Promover a confissão e a cura em vez da exposição maliciosa (Tg 5:16).
- Ensinar que a edificação é prioridade — cada encontro discipular deve fortalecer a fé, não destruir a reputação de alguém.
Portanto, o discipulador não pode tolerar a fofoca no discipulado. Ele deve cultivar um ambiente de confiança, edificação e verdade, lembrando que “a língua branda quebranta os ossos” (Pv 25:15) e que o falar cheio de graça é sinal da maturidade espiritual (Cl 4:6).
Conclusão
Ser um discipulador é um chamado sublime e desafiador.
Não se trata apenas de acompanhar pessoas, mas de cooperar com o próprio Deus na formação do caráter de Cristo na vida de cada discípulo.
O discipulado bíblico é, portanto, uma missão santa, fundamentada na Palavra e sustentada pelo Espírito Santo.
O discipulado não é terapia
Ele vai além do alívio emocional, pois seu objetivo é moldar o discípulo à imagem de Cristo.
O verbo grego usado por Paulo em Gálatas 4:19, μορφόω ( morphóō , “dar forma, moldar interiormente”) , mostra que o processo discipular é de gestação espiritual, até que Cristo seja formado plenamente no discípulo.
O discipulado não é clonagem de personalidades
O discipulador não gera cópias de si mesmo, mas aponta para o Filho de Deus.
Paulo disse: “Sede meus imitadores (μιμηταί, mimētai ), como também eu sou de Cristo” (I Co 11:1).
A referência não é a personalidade do líder, mas a vida de Cristo refletida nele.
O discipulado não é manipulação nem abuso de autoridade
Jesus advertiu: “Os reis das nações dominam (κατακυριεύουσιν, katakyrieuousin ) sobre elas; mas entre vós não será assim” (Lc 22:25-26).
A autoridade do discipulador é de serviço e exemplo, nunca de tirania ou controle.
O hebraico רָעָה ( ra‘ah , “pastorear, cuidar” – Sl 23:1) lembra que a liderança bíblica deve ser marcada por cuidado, não por exploração.
O discipulado não é amizade superficial
Jesus chamou os discípulos de amigos (φίλοι, philoi ) (Jo 15:15), mas antes os chamou à cruz (Mc 8:34).
A verdadeira amizade no discipulado inclui confrontar, exortar e estimular ao amor e às boas obras (Hb 10:24-25), como o ferro que afia o ferro (Pv 27:17).
O discipulado não é dependência emocional
O discipulador que prende o discípulo a si mesmo falha em sua missão.
Jeremias 17:7 declara: “Bendito o homem que confia (בָּטַח, bātach , ‘depender com segurança’) no Senhor.”
Paulo reforça: “Não que tenhamos domínio sobre a vossa fé, mas porque somos cooperadores de vosso gozo; porque pela fé estais em pé” (II Co 1:24).
O verdadeiro discipulado conduz à maturidade em Cristo (Ef 4:13).
Por fim, o discipulado não é lugar de fofoca
A Palavra proíbe: “Não andarás como mexeriqueiro (רָכִיל, rakíl) entre o teu povo” (Lv 19:16).
O discipulador deve proteger seus encontros de maledicências, guiando sempre para a confissão pessoal e edificação mútua (Tg 5:16; Ef 4:29).
Assim, o discipulado bíblico é um processo de santificação e multiplicação.
Como Paulo declarou a Timóteo: “E o que de mim, entre muitas testemunhas, ouviste, confia-o a homens fiéis, que sejam idôneos para também ensinarem os outros” (II Tm 2:2).
O discipulado é intergeracional e inquebrável: discípulos que se tornam discipuladores, formando uma corrente viva do Reino até a volta de Cristo.
O discipulador que evita esses seis erros torna-se canal de vida, preparando discípulos que amadurecem na fé, caminham com autonomia espiritual, vivem centrados em Cristo e se multiplicam em novos discipuladores.
Dessa forma, a Igreja permanece fiel à ordem do Senhor: “ Portanto, indo, fazei discípulos (μαθητεύσατε, mathēteúsate) de todas as nações” (Mt 28:19).
Se este Refrigério Teológico sobre as seis coisas que o discipulador não deve fazer falou ao seu coração, não guarde apenas para si.
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Talvez alguém próximo a você esteja enfrentando exatamente esses desafios no discipulado: transformando encontros em terapia, clonando sua própria personalidade, manipulando vidas, reduzindo tudo a uma amizade superficial, gerando dependência emocional ou permitindo fofocas.
Esse líder precisa de direção bíblica para alinhar sua prática à vontade de Deus.
📖 Reflita:
- Você tem buscado formar Cristo nos discípulos (Gl 4:19) em vez de reproduzir apenas suas preferências pessoais?
- Tem exercido autoridade espiritual como serviço (Lc 22:26), ou corre o risco de manipular e controlar?
- Está conduzindo seus discípulos à maturidade em Cristo (Ef 4:13), ou mantendo-os dependentes de você?
- Tem zelado por encontros que edifiquem na Palavra (2Tm 3:16), ou permitido que a fofoca desvie o propósito do discipulado?
Lembre-se: ser discipulador é um chamado sublime e desafiador. A missão não é produzir clones nem dependentes, mas formar homens e mulheres que conheçam, amem e sirvam a Cristo de todo o coração.
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Vamos caminhar juntos, levantando uma geração de discipuladores que não caem nos erros do orgulho humano, mas refletem a humildade e o serviço do Mestre.
Assim, veremos multiplicar-se discípulos que permanecem firmes no Senhor e se tornam também discipuladores (2Tm 2:2).
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Um artigo fundamental para quem leva a sério o chamado de ser discipulador!
Muitos confundem o discipulado com espaço de terapia, clonagem de personalidades ou até um ambiente de amizade superficial.
Outros caem no perigo da manipulação, da dependência emocional e da fofoca.
Mas a Bíblia nos mostra que o verdadeiro discipulado é muito mais profundo: é formar Cristo no discípulo (Gl 4:19), levando-o à maturidade (Ef 4:13) e à liberdade em Jesus (Jo 8:32).
Paulo nos lembra: “Não que tenhamos domínio sobre a vossa fé, mas porque somos cooperadores de vosso gozo; porque pela fé estais em pé” (2Co 1:24). Ou seja, o discipulador não controla, mas coopera; não aprisiona, mas liberta; não centraliza em si, mas aponta sempre para Cristo.
Esse artigo é um alerta e, ao mesmo tempo, um convite: voltar ao modelo do Mestre, que serviu, ensinou e entregou sua vida para que tivéssemos vida (Mc 10:45).
Vale a leitura e a prática!
Que Deus levante discipuladores saudáveis, que ensinem, acompanhem e multipliquem discípulos fiéis até a volta de Cristo.