O caráter missionário da Igreja de Jerusalém

O caráter missionário da Igreja de Jerusalém

Seja muito bem-vindo(a) à AULA MESTRE | EBD – Escola Bíblica Dominical | Lição 12 – Revista Lições Biblicas | 3º Trimestre/2025 .

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É fundamental esclarecer que os textos da AULA MESTRE | EBD | Lições Bíblicas não são cópias da revista impressa. 

Embora a estrutura de títulos, tópicos e subtópicos siga fielmente o conteúdo oficial, os textos aqui apresentados são comentários inéditos, reflexões aprofundadas e aplicações teológicas elaboradas pelo Pr. Francisco Miranda , fundador do IBI “ Instituto Bíblico Internacional” e do Teologia24horas.

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Texto áureo

“E havia entre eles alguns varões de Chipre e de Cirene, os quais, entrando em Antioquia, falaram aos gregos, anunciando o Senhor Jesus.” (At 11.20).

O texto áureo destaca o momento em que cristãos comuns, vindos de Chipre e Cirene, foram além das fronteiras judaicas e anunciaram o Evangelho aos gregos em Antioquia.

O verbo usado, laleō (λαλέω), significa simplesmente “falar”, mas aqui ganha o peso missionário de proclamar a fé em Cristo de forma espontânea e corajosa.

Eles não eram apóstolos, mas discípulos anônimos que, cheios do Espírito, cumpriam o “Ide” de Jesus (Mt 28.19).

Ao anunciar “o Senhor Jesus” ( ton Kyrion Iēsoun , τὸν κύριον Ἰησοῦν), afirmavam sua soberania universal, contrapondo-se ao culto ao imperador e aos ídolos pagãos.

Esse ato inaugura o caráter verdadeiramente transcultural da Igreja: o Evangelho rompe barreiras étnicas e culturais, revelando que Cristo é Senhor não apenas de Israel, mas de todas as nações (Rm 10.12; Ap 7.9).

Verdade prática

Faz parte da missão essencial da Igreja a evangelização de povos não alcançados .

A palavra “evangelho” vem do grego euangélion (εὐαγγέλιον), que significa “boas-novas”.

Jesus ordenou: “Ide por todo o mundo, pregai o Evangelho a toda criatura” ( poreuthéntes eis ton kosmon hapanta kērýxate to euangélion pásē tē ktísei , πορευθέντες εἰς τὸν κόσμον ἅπαντα κηρύξατε τὸ εὐαγγέλιον πάσῃ τῇ κτίσει – Mc 16.15).

Esse mandato não se limita a contextos já alcançados, mas visa todas as nações ( panta ta éthnē , πάντα τὰ ἔθνη – Mt 28.19).

A missão transcultural da Igreja é confirmada pelo próprio Cristo em Atos 1.8, quando prometeu que o Espírito Santo daria poder ( dýnamis , δύναμις) para que os discípulos fossem suas testemunhas ( mártyres , μάρτυρες) em Jerusalém, Judeia, Samaria e “até aos confins da terra”.

O apóstolo Paulo entendeu isso claramente: “Ai de mim se não anunciar o evangelho” (1Co 9.16), lembrando que a fé vem pelo ouvir a Palavra de Cristo ( akoē , ἀκοή – Rm 10.17).

Logo, a evangelização dos povos não alcançados não é um projeto humano, mas parte do plano eterno de Deus revelado desde Abraão: “em ti serão benditas todas as famílias da terra” (Gn 12.3; Gl 3.8).

A missão, portanto, não é opcional, mas a identidade da Igreja que vive para proclamar a soberania de Cristo sobre cada língua, tribo, povo e nação (Ap 5.9; 7.9).

Objetivos da lição

  • Destacar o papel da dispersão cristã na expansão missionária da Igreja Primitiva
    A perseguição que dispersou os crentes em Jerusalém (At 8.1-4; 11.19) não silenciou a mensagem, mas a expandiu. O termo grego usado em Atos 8.4 para “espalhados” é diaspeirō (διασπείρω), que significa “semeados à distância”, revelando que cada crente disperso se tornou uma “semente missionária”. Assim cumpria-se Atos 1.8: o Evangelho se espalhando de Jerusalém até os confins da terra.
  • Enfatizar a importância da contextualização da mensagem do Evangelho para diferentes contextos culturais, sem, contudo, perder sua essência
    Em Antioquia, os discípulos anunciaram Jesus não apenas como Messias de Israel, mas como Senhor universal ( Kyrios pantōn , κύριος πάντων – At 10.36; 11.20). Esse ato exigiu sensibilidade cultural e firmeza doutrinária, pois os gentios não partilhavam das mesmas tradições judaicas (At 17.22-28). O princípio de Paulo em 1 Coríntios 9.22 — “fiz-me tudo para todos, para por todos os meios chegar a salvar alguns” — mostra que a mensagem pode ser adaptada na forma, mas nunca adulterada no conteúdo.
  • Valorizar a prática do discipulado como base para o crescimento saudável e a manutenção da identidade da Igreja
    O discipulado ( mathēteía , μαθητεία) é mais que instrução intelectual: é formação integral do caráter à imagem de Cristo (Lc 6.40). Em Antioquia, Barnabé e Saulo permaneceram um ano ensinando ( didáskō , διδάσκω – At 11.26), consolidando a fé e moldando a identidade dos crentes, que pela primeira vez foram chamados “cristãos” ( christianoí , Χριστιανοί). O discipulado é, portanto, a base para a maturidade espiritual (Ef 4.11-13; 2Tm 2.2) e para a preservação da verdadeira identidade cristã.

Leitura diária

  • Segunda | At 1:8 – Alcançando os confins da terra
  • Terça | Rm 15:24 – O Evangelho além-mar
  • Quarta | At 11:20,21 – Implantando igrejas
  • Quinta | At 14:21 – Fazendo discípulos
  • Sexta | At 11:26 – Formando a identidade cristã
  • Sábado | At 11:29 – Socorrendo os necessitados

Leitura bíblica em classe

Atos 11:19-30

19 – “E os que foram dispersos pela perseguição que sucedeu por causa de Estêvão caminharam até à Fenícia, Chipre e Antioquia, não anunciando a ninguém a palavra, senão somente aos judeus.”

  • O termo “dispersos” traduz o grego diaspeirō (διασπείρω), que significa “espalhar como sementes”. Assim, a perseguição (At 8.1) se transformou em semeadura missionária.
  • Inicialmente, a mensagem ainda estava restrita aos judeus, refletindo a mentalidade de uma igreja nascente.

20 – “E havia entre eles alguns varões de Chipre e de Cirene, os quais, entrando em Antioquia, falaram aos gregos, anunciando o Senhor Jesus.”

  • Pela primeira vez, judeus helenistas anunciaram o Evangelho aos gentios ( Hellēnas , Ἕλληνας).
  • O conteúdo da pregação foi “o Senhor Jesus” ( ton Kyrion Iēsoun ), enfatizando o seu senhorio universal (Rm 10.12).

21 – “E a mão do Senhor era com eles; e grande número creu e se converteu ao Senhor.”

  • “A mão do Senhor” ( cheir Kyriou , χεὶρ Κυρίου; heb. yad YHWH , יַד־יְהוָה) simboliza intervenção e poder divino (Êx 15.6).
  • O resultado: muitos creram ( pisteúō , πιστεύω) e se converteram ( epistrephō , ἐπιστρέφω, “voltar-se”), abandonando os ídolos (1Ts 1.9).

22 – “E chegou a fama destas coisas aos ouvidos da igreja que estava em Jerusalém; e enviaram Barnabé até Antioquia.”

  • A igreja-mãe em Jerusalém exerceu supervisão pastoral, enviando Barnabé, homem de confiança (At 4.36; 9.27).

23 -“O qual, quando chegou, e viu a graça de Deus, se alegrou e exortou a todos a que, com firmeza de coração, permanecessem no Senhor.”

  • Barnabé viu a cháris (χάρις), a graça de Deus em ação.
  • Ele os “exortou” ( parakaleō , παρακαλέω – encorajar, consolar), a permanecer firmes no Senhor (Jo 15.4-5).

24 – “Porque era homem de bem e cheio do Espírito Santo e de fé; e muita gente se uniu ao Senhor.”

  • Barnabé era plērēs pneumatos hagiou (πλήρης πνεύματος ἁγίου), cheio do Espírito Santo, uma marca indispensável ao discipulador.
  • O resultado de sua vida e ministério foi crescimento da igreja.

25-26 – “E partiu Barnabé para Tarso, a buscar Saulo; e, achando-o, o conduziu para Antioquia. E sucedeu que todo um ano se reuniram naquela igreja e ensinaram muita gente; e em Antioquia foram os discípulos, pela primeira vez, chamados cristãos.”

  • Barnabé reconheceu a necessidade de cooperação, buscando Saulo (Paulo).
  • Permaneceram um ano ensinando ( didáskō , διδάσκω).
  • Ali os discípulos foram chamados “cristãos” ( christianoí , Χριστιανοί), que significa “pertencentes a Cristo” ou “seguidores do Ungido” ( Christós , Χριστός; heb. Mashiach , מָשִׁיחַ).

27-28 – “Naqueles dias, desceram profetas de Jerusalém para Antioquia. E, levantando-se um deles, por nome Ágabo, dava a entender, pelo Espírito, que haveria uma grande fome em todo o mundo; e isso aconteceu no tempo de Cláudio César.”

  • Profetas ( prophētai , προφῆται) exerciam ministério de edificação e direção (Ef 4.11).
  • Ágabo, movido pelo Espírito, predisse a fome que se cumpriu historicamente sob o imperador Cláudio (41-54 d.C.).

29-30 – “E os discípulos determinaram mandar, cada um conforme o que pudesse, socorro aos irmãos que habitavam na Judeia. O que eles, com efeito, fizeram, enviando-o aos anciãos, por mão de Barnabé e de Saulo.”

  • O termo “socorro” é diakonía (διακονία), serviço prático e solidário.
  • A igreja em Antioquia demonstra maturidade missionária e compaixão, unindo fé, ensino e generosidade (Gl 6.10; Tg 2.15-16).

Atos 11.19-30 revela como a perseguição se tornou instrumento para expansão missionária.

Antioquia surge como marco da pregação transcultural, do discipulado sólido e da solidariedade cristã.

Ali vemos a Igreja cumprindo o “Ide” de Jesus (Mt 28.19-20) com poder, ensino e amor, preparando-se para se tornar o primeiro centro missionário mundial.

Introdução

A Igreja de Jerusalém, mesmo sob o peso das perseguições (At 8.1-4), não perdeu sua essência missionária .

A palavra missão deriva do latim missio (enviar), ecoando o grego apostéllō (ἀποστέλλω), usado por Jesus em João 20.21: “Assim como o Pai me enviou ( apestalken ), também eu vos envio”.

Essa consciência de envio estava impregnada no coração dos discípulos, de modo que, mesmo dispersos, continuaram a pregar com ousadia.

O verbo usado em Atos 8.4 para “anunciar” é euangelízomai (εὐαγγελίζομαι), “proclamar boas-novas”, o mesmo termo profético usado em Isaías 61.1 na Septuaginta, aplicado por Jesus ao seu ministério em Lucas 4.18.

Esses cristãos perseguidos, ao chegarem a cidades como Antioquia, não se calaram, mas ultrapassaram fronteiras geográficas e culturais, levando o Evangelho além de Israel.

Antioquia, importante cidade da Síria e terceira maior do Império Romano, tornou-se o primeiro grande centro missionário transcultural (At 11.19-21).

Ali, pela primeira vez, judeus helenistas falaram diretamente aos gregos ( Hellēnas , Ἕλληνας), ou seja, gentios não ligados ao Judaísmo, anunciando não apenas que Jesus era o Messias ( Mashiach מָשִׁיחַ esperado pelos judeus), mas o Senhor ( Kyrios , κύριος) de todos (At 11.20).

Essa expansão missionária cumpre a ordem de Jesus em Mateus 28.19: “Ide, portanto, e fazei discípulos ( mathēteúsate , μαθητεύσατε) de todas as nações ( panta ta éthnē , πάντα τὰ ἔθνη)”, e confirma a promessa de Atos 1.8: “sereis minhas testemunhas ( martyres , μάρτυρες) em Jerusalém, Judeia, Samaria e até os confins da terra”.

O termo “testemunhas” traz o sentido de alguém disposto a selar sua fé até com a morte, como o próprio Estêvão, cujo martírio (At 7.55-60) foi o estopim para essa dispersão missionária.

Vemos aqui como a graça de Deus ( cháris , χάρις), dom imerecido que capacita os fracos (2Co 12.9), transforma homens simples em proclamadores do Reino.

Não eram apóstolos de renome, mas leigos anônimos, cheios do Espírito Santo, que fundaram a igreja em Antioquia.

Lucas resume o segredo dessa vitória em Atos 11.21: “E a mão do Senhor ( cheir Kyriou , χεὶρ Κυρίου; heb. yad YHWH , יַד־יְהוָה) era com eles, e grande número creu e se converteu ao Senhor”.

Assim, os cristãos refugiados, mesmo sob perseguição, não esconderam sua fé, mas a compartilharam apontando sempre para a cruz de Cristo (1Co 1.18).

Antioquia se tornou símbolo da primeira missão transcultural e, não por acaso, foi lá que os discípulos foram chamados pela primeira vez de “cristãos” ( christianoi , Χριστιανοί – At 11.26), termo que significa literalmente “pertencentes a Cristo”.

Esse exemplo histórico é um marco para nós. Mostra que a Igreja, quando sensível à direção do Espírito e comprometida com a Grande Comissão, transforma adversidades em oportunidades.

Os primeiros discípulos não apenas sobreviveram à perseguição: eles floresceram em missão, deixando-nos um legado de coragem, fé e amor.

Sua postura não deve apenas nos inspirar, mas nos convocar a agir com a mesma ousadia, vivendo a verdade de 2Tm 4.2: “Prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não”.

1 – Uma Igreja com consciência missionária

O caráter missionário da Igreja de Jerusalém se revelou na obediência ao “Ide” de Cristo ( poreuthéntes oun mathēteúsate , Mt 28.19), cujo verbo grego mathēteúsate (μαθητεύσατε) significa “fazer discípulos”, não apenas converter, mas formar seguidores.

A perseguição após a morte de Estêvão (At 8.1-4) foi o catalisador que dispersou os crentes, mas não os silenciou. Onde chegavam, anunciavam o Evangelho ( euangelízomai , εὐαγγελίζομαι), proclamando as Boas-Novas com ousadia.

Em Antioquia, importante centro do Império Romano, o Evangelho encontrou espaço entre judeus e gentios, cumprindo Atos 1.8: testemunhas ( mártyres , μάρτυρες) “até os confins da terra”.

Essa consciência missionária brotava da convicção de que Jesus é Kyrios (κύριος), Senhor universal (At 10.36; Fp 2.11).

A missão não estava limitada aos apóstolos, mas a todo o corpo de Cristo, pois cada crente era participante da Grande Comissão.

Assim, a perseguição, embora dolorosa, tornou-se instrumento divino para o avanço da fé, cumprindo Romanos 8.28, onde todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus.

1.1 – O Evangelho para além da fronteira de Israel

A Igreja, conduzida pelo Espírito, rompeu barreiras geográficas e culturais, cumprindo a profecia de Isaías 49.6: “também te dei como luz ( ’ôr , אוֹר) para os gentios ( gôyim , גּוֹיִם)”.

Esse anúncio messiânico aponta para o alcance universal da salvação.

Os cristãos dispersos, fugindo da perseguição, chegaram até Fenícia, Chipre e Antioquia (At 11.19), confirmando o movimento missionário além de Jerusalém.

Essa expansão demonstra que a mensagem não estava limitada à cidade santa, mas destinada a todas as nações ( panta ta éthnē , πάντα τὰ ἔθνη – Mt 28.19).

Assim como Filipe evangelizou em Samaria (At 8.5), rompendo a antiga inimizade entre judeus e samaritanos, outros discípulos avançaram para regiões gentílicas, revelando que o Evangelho é o coração pulsante da Igreja.

Em cumprimento de Gênesis 12.3 — “em ti serão benditas todas as famílias da terra” — a missão se manifestava como plano eterno de Deus, mostrando que a salvação não é monopólio de um povo, mas dom oferecido a toda a humanidade (Jo 3.16; Rm 1.16).

1.2 – Cristãos dispersados, mas conscientes de sua missão

Mesmo sob dor e incerteza, os discípulos não silenciaram, cumprindo a exortação de Jesus em Mateus 10.23: “quando vos perseguirem numa cidade, fugi para outra”.

Onde chegavam, anunciavam Jesus (At 11.20). O verbo usado por Lucas, euangelízomai (εὐαγγελίζομαι), significa “proclamar boas novas com alegria”, apontando para a natureza jubilosa da mensagem.

A perseguição, que poderia gerar amargura, transformou-se em catalisador da missão, pois “os que foram dispersos iam por toda parte anunciando a palavra” (At 8.4).

Assim, aquilo que o inimigo intentou para o mal, Deus converteu em bem, como no princípio revelado em Gênesis 50.20.

Essa postura demonstra que cada crente é chamado a ser um missionário em potencial, pois a Grande Comissão não é restrita a líderes, mas a todo o corpo de Cristo (Mc 16.15).

O termo martys (μάρτυς), traduzido por “testemunha” em Atos 1.8, também originou a palavra “mártir”, revelando que a missão envolve compromisso até às últimas consequências.

Os cristãos dispersos entenderam isso: suas adversidades tornaram-se oportunidades para espalhar esperança (Rm 5.3-5; 2Co 4.8-10).

O Espírito Santo os capacitou a transformar sofrimento em semente missionária, cumprindo a verdade de que “a palavra de Deus não está presa” (2Tm 2.9).

1.3 – Cristãos leigos, mas capacitados pelo Espírito

Não foram apenas os apóstolos que fundaram a igreja em Antioquia, mas cristãos anônimos, sem títulos ou cargos, conforme Atos 11.20-21.

Esses “crentes comuns” revelam que a obra missionária não depende de status humano, mas da ação sobrenatural do Espírito Santo.

Lucas enfatiza: “a mão do Senhor era com eles”. A expressão hebraica yad YHWH (יַד־יְהוָה), “mão do Senhor”, é símbolo de poder e intervenção divina, como em Êxodo 15.6: “a tua destra, ó Senhor, tem glorioso poder”.

No grego, cheir Kyriou (χεὶρ Κυρίου) reforça a ideia de autoridade ativa e presente de Deus conduzindo a missão.

A capacitação, portanto, não estava em diplomas ou reconhecimento institucional, mas na unção do Espírito.

Jesus já havia prometido que os discípulos receberiam “dýnamis” (δύναμις), poder divino, ao serem revestidos do Espírito (At 1.8).

Esse poder não era monopólio dos Doze, mas distribuído a todo aquele que crê (At 2.39).

Barnabé, ao chegar em Antioquia, reconheceu a graça de Deus sobre aqueles irmãos leigos (At 11.23-24).

Assim, aprendemos que qualquer crente cheio do Espírito — seja pastor, diácono ou novo convertido — pode ser instrumento eficaz na missão (1Co 12.4-7; Ef 4.11-12).

A força da Igreja não reside em nomes conhecidos, mas na presença ativa do Espírito Santo, que usa vasos frágeis para realizar obras extraordinárias (2Co 4.7).

Sinopse I

A Igreja de Jerusalém, mesmo dispersa pela perseguição, manteve viva sua consciência missionária. Os cristãos, cheios do Espírito, não se calaram, mas cumpriram o “Ide” de Jesus (Mt 28.19; At 1.8). Como luz para os gentios (Is 49.6), anunciaram o Evangelho além de Israel, mostrando que a missão não é restrita a líderes, mas responsabilidade de todo o corpo de Cristo.

Auxílio Bibliológico

Alguns dos primeiros missionários cristãos, dispersos pela perseguição que se seguiu ao martírio de Estêvão (At 8.1-4; 11.19), alcançaram Antioquia, cidade situada a aproximadamente 480 km ao norte de Jerusalém.

Sua relevância política era notável, pois era a capital da província romana da Síria, uma região estratégica para o comércio e para o trânsito cultural do Império.

Antioquia da Síria era a terceira maior cidade do mundo romano, depois de Roma e Alexandria, com uma população estimada em quinhentos mil habitantes, dos quais cerca de sessenta e cinco mil eram judeus.

Foi justamente nesse ambiente multicultural e pluralista que o Evangelho encontrou terreno fértil, cumprindo o que o Senhor prometera em Atos 1.8: “sereis minhas testemunhas ( mártyres , μάρτυρες) tanto em Jerusalém, como em toda a Judeia e Samaria, e até aos confins da terra”.

O termo mártyres , além de “testemunhas”, carrega a ideia de alguém que confirma a verdade com sua própria vida, antecipando o sentido de “mártir”.

Antioquia se tornou, portanto, a sede da expansão do cristianismo fora da Palestina, servindo como ponto de partida para missões aos gentios (At 13.1-3; 14.26-28; 15.22-35; 18.22).

A marcha do Evangelho não se limitou a Samaria (At 8.5) nem a Cesareia (At 10.1-48).

Alguns missionários chegaram até a Fenícia (atual Líbano), cumprindo o oráculo profético de Isaías 9.1-2: “o povo que estava em trevas viu uma grande luz”.

Outros avançaram para a ilha de Chipre, pátria de Barnabé (At 11.19-20; cf. At 4.36), onde mais tarde Paulo e Barnabé pregaram com ousadia (At 13.4-12).

O próprio fato de haver cristãos em Chipre antes da chegada dos apóstolos mostra que o Evangelho não dependia de figuras centrais, mas do mover do Espírito através de anônimos fiéis.

Em Antioquia, aconteceu algo inédito: judeus helenistas falaram também aos gregos ( Hellēnas , Ἕλληνας – At 11.20), ou seja, a não judeus.

Aqui o Evangelho rompe definitivamente a barreira étnica, cumprindo a promessa de Isaías 49.6 de que o Servo do Senhor seria “luz para os gentios” ( ’ôr goyim , אוֹר גּוֹיִם) e se estenderia “até os confins da terra”.

Esse movimento missionário confirma que o plano de Deus, iniciado em Abraão (“em ti serão benditas todas as famílias da terra” – Gn 12.3), não estava restrito a Israel, mas alcançaria todas as nações ( éthnē , ἔθνη – Mt 28.19).

A fundação da igreja em Antioquia não apenas fortaleceu a identidade cristã, mas também inaugurou a primeira comunidade intencionalmente transcultural, onde, pela primeira vez, os discípulos foram chamados “cristãos” ( christianoí , Χριστιανοί – At 11.26), expressão que significa literalmente “os que pertencem a Cristo” ou “os partidários do Ungido”.

Assim, Antioquia tornou-se um marco profético e missional, de onde partiriam grandes missões apostólicas que transformariam o mundo romano.

2 – Uma Igreja com visão transcultural

A chegada do Evangelho em Antioquia representa um divisor de águas na história da Igreja, pois ali, pela primeira vez, a mensagem foi levada diretamente aos gentios ( éthnē , ἔθνη – At 11.20).

Até então, a pregação se concentrava nos judeus da diáspora (At 11.19).

Essa mudança exigiu uma visão transcultural , uma vez que os ouvintes não compartilhavam das tradições judaicas, da expectativa messiânica ( Mashiach , מָשִׁיחַ) nem dos costumes da Lei.

Os cristãos, guiados pelo Espírito, aprenderam a contextualizar a pregação sem adulterar a verdade.

Em vez de apresentar Jesus apenas como o Messias prometido a Israel, proclamaram-no como Kyrios (κύριος), “Senhor de todos” (At 10.36; Fp 2.11).

Esse título, usado também para o imperador romano, tinha profundo impacto cultural: declarar que Jesus é Kyrios significava subverter a lealdade ao culto imperial, reconhecendo-o como o verdadeiro soberano sobre judeus e gentios (Rm 10.12).

O apóstolo Paulo mais tarde seguiu esse mesmo modelo em Atenas, citando poetas gregos para anunciar o Deus desconhecido (At 17.22-28), mostrando que o Evangelho pode dialogar com diferentes culturas sem perder sua essência.

O princípio permanece: “fiz-me tudo para todos, para por todos os meios chegar a salvar alguns” (1Co 9.22).

A experiência de Antioquia mostra que a missão exige sensibilidade , para compreender a realidade do outro; sabedoria , para comunicar a fé em categorias compreensíveis; e firmeza na verdade , para não diluir a mensagem (2Tm 4.2).

Assim, a Igreja entendeu que o plano de Deus é universal: Cristo é a luz que ilumina “toda a humanidade” ( phōtízei panta ánthrōpon , φωτίζει πάντα ἄνθρωπον – Jo 1.9), e o Evangelho é poder de Deus “para todo aquele que crê, primeiro do judeu, e também do grego” (Rm 1.16).

2.1 – A cultura grega (helênica)

Ao falar aos gregos em Antioquia, os missionários entraram em um ambiente pluralista, dominado por deuses pagãos, filosofias estoicas e epicuristas, além do culto imperial.

O texto de Atos 11.20 registra: “falaram também aos gregos” ( eláloun kai pros tous Hellēnas , ἐλάλουν καὶ πρὸς τοὺς Ἕλληνας), indicando um marco missionário: pela primeira vez, cristãos judeus anunciaram Jesus a pessoas totalmente alheias ao Judaísmo.

O termo Hellēnas (Ἕλληνας) designa não apenas “falantes de grego”, mas gentios de formação helênica, sem vínculo com a Lei ou a esperança messiânica.

O desafio foi apresentar Jesus como único Senhor ( Kyrios , κύριος), título aplicado no culto ao imperador romano, mas agora atribuído a Cristo, confrontando diretamente a idolatria (At 11.20; Rm 10.9).

Esse termo Kyrios equivale ao tetragrama divino YHWH (יהוה) na Septuaginta, mostrando que Jesus não é apenas mais um senhor político, mas o próprio Senhor do céu e da terra (Mt 28.18; Fp 2.11).

Declarar “Jesus é Senhor” ( Iēsous Kyrios , Ἰησοῦς κύριος) em um ambiente helênico era subversivo, pois deslocava a lealdade do imperador para Cristo.

A mensagem do Evangelho, portanto, penetrou em uma cultura complexa sem perder sua essência.

Como Paulo mais tarde em Atenas, que usou a inscrição “AO DEUS DESCONHECIDO” para anunciar o Criador (At 17.22-28), os primeiros pregadores souberam dialogar com a cosmovisão helênica, sem sincretismo, mas com contextualização.

Esse movimento cumpria a ordem de Jesus: “Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura” ( pāsē tē ktísei , πάσῃ τῇ κτίσει – Mc 16.15).

Assim, a Igreja começou a ultrapassar as fronteiras da Palestina, chegando a um mundo novo, onde os ouvintes não tinham nenhum contato com a fé judaica.

A proclamação de Cristo como Kyrios universal tornava realidade a profecia: “O povo que estava assentado em trevas viu uma grande luz” (Is 9.2; Mt 4.16).

A mensagem, antes restrita a Israel, agora alcançava as nações, mostrando que o Evangelho é verdadeiramente transcultural, capaz de dialogar com qualquer contexto sem perder sua essência transformadora (Rm 1.16).

2.2 – Contextualizando a mensagem

Os missionários que chegaram a Antioquia demonstraram discernimento espiritual ao adaptar a forma da comunicação sem adulterar o conteúdo da mensagem.

O verbo usado em Atos 11.20 — “anunciavam o evangelho do Senhor Jesus” ( euangelízonto ton Kyrion Iēsoun , εὐαγγελίζοντο τὸν κύριον Ἰησοῦν) — enfatiza que sua proclamação era centrada na boa nova da soberania de Cristo.

O termo euangelízomai significa proclamar uma boa notícia com júbilo, e aqui não se tratava de uma ideologia nova, mas da proclamação de que Jesus é o Senhor ( Kyrios , κύριος).

Os ouvintes em Antioquia não eram judeus que aguardavam um Messias ( Mashiach , מָשִׁיחַ) segundo as Escrituras, mas gregos alheios à história de Israel.

Por isso, os missionários não se apoiaram no Antigo Testamento para provar que Jesus era o Cristo prometido, como Pedro fizera em Jerusalém (At 2.36) ou como Estêvão em seu discurso (At 7.51-53).

Eles compreenderam que o Evangelho precisava ser apresentado em categorias compreensíveis ao seu público.

Esse mesmo princípio foi usado por Paulo em Atenas, quando citou poetas locais — “Pois nele vivemos, nos movemos e existimos” (At 17.28) — para anunciar o Deus criador.

O apóstolo declarou: “Fiz-me tudo para todos, para por todos os meios chegar a salvar alguns” ( tois pasin gegona panta, hina pantōs tinas sōsō , τοῖς πᾶσιν γέγονα πάντα, ἵνα πάντως τινὰς σώσω – 1Co 9.22).

Assim, em Antioquia a ênfase não foi na circuncisão ou nos costumes da Lei — que eram irrelevantes aos gentios — mas no chamado ao arrependimento e à fé no único Deus verdadeiro.

Eles anunciaram que era necessário abandonar os ídolos e voltar-se ao Senhor (At 14.15; 26.18,20; 1Ts 1.9).

O Evangelho foi, portanto, contextualizado , mas não relativizado: sua essência permaneceu intacta.

Esse equilíbrio entre fidelidade doutrinária e sensibilidade cultural mostra que a Igreja deve ser bíblica em essência e cultural em expressão .

O Evangelho não é prisioneiro de uma cultura específica; ele transcende fronteiras e dialoga com qualquer povo, cumprindo a promessa de Apocalipse 7.9 de que a salvação alcançará “todas as nações ( éthnē , ἔθνη), tribos, povos e línguas”.

2.3 – O Senhorio de Cristo sobre os povos

A proclamação em Antioquia destacou que Jesus não era apenas o Messias ( Mashiach , מָשִׁיחַ) esperado por Israel, mas o Senhor universal ( Kyrios , κύριος) sobre todos os povos.

Paulo afirma: “Porque não há diferença entre judeu e grego; porque um mesmo é o Senhor ( Kyrios ) de todos, rico para com todos os que o invocam” (Rm 10.12).

Esse reconhecimento rompeu as barreiras étnicas, culturais e religiosas, mostrando que a salvação não é monopólio de uma nação, mas dom oferecido a toda a humanidade (Jo 3.16; 1Tm 2.4).

O termo Kyrios , usado na Septuaginta para traduzir o tetragrama divino YHWH (יהוה), é agora aplicado a Jesus, revelando sua plena divindade.

Confessar “Jesus é Senhor” ( Kyrios Iēsous , κύριος Ἰησοῦς) não era uma simples fórmula devocional, mas uma declaração contracultural que desafiava tanto a religião judaica exclusivista quanto o culto ao imperador romano (Fp 2.10-11).

A visão transcultural da Igreja nasce desse entendimento: não existe cultura impermeável ao Evangelho, pois Cristo é o Cordeiro que comprou com seu sangue “de toda tribo, e língua, e povo, e nação” ( ek pasēs phylēs kai glōssēs kai laou kai ethnous , ἐκ πάσης φυλῆς καὶ γλώσσης καὶ λαοῦ καὶ ἔθνους – Ap 5.9).

Essa universalidade foi antecipada na promessa feita a Abraão: “em ti serão benditas todas as famílias da terra” (Gn 12.3; Gl 3.8).

Portanto, proclamar o Senhorio de Cristo é afirmar que Ele governa cada esfera da vida, cada povo e cada cultura. Ele é o Alfa e o Ômega (Ap 22.13), aquele diante de quem todo joelho se dobrará ( pan gonu kamsei , πᾶν γόνυ κάμψει – Fp 2.10).

A Igreja, ao reconhecer essa soberania, é chamada a viver e anunciar a fé de modo transcultural, consciente de que o Evangelho é poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê (Rm 1.16).

Sinopse II

Em Antioquia, cristãos judeus ousaram pregar aos gentios ( éthnē , ἔθνη), contextualizando a mensagem sem perder sua essência. Eles anunciaram não apenas o Messias de Israel, mas o Senhor universal ( Kyrios , κύριος) de todas as nações (Rm 10.12; At 11.20). Esse marco cumpriu o mandato de Jesus de levar o Evangelho “a toda criatura” (Mc 16.15) e confirmou que a salvação é para cada tribo, língua, povo e nação (Ap 7.9).

Auxílio Bíblico-Teológico

A maioria dos cristãos dispersos, após a perseguição em Jerusalém, pregava apenas “aos judeus” (At 11.19).

O texto usa o termo Ioudaiois monon (Ἰουδαίοις μόνον), revelando a limitação inicial do alcance missionário, visto que o Judaísmo ainda era o horizonte religioso natural da fé cristã nascente.

Contudo, alguns homens oriundos de Chipre e de Cirene ousaram ultrapassar essa barreira e anunciaram também “aos gregos” ( Hellēnas , Ἕλληνας – At 11.20), isto é, aos gentios de formação helênica, alheios à Lei e à esperança messiânica.

Essa decisão marcou o primeiro passo consciente da Igreja rumo a uma missão verdadeiramente transcultural , em obediência à ordem de Cristo de pregar o Evangelho “a toda criatura” ( pāsē tē ktísei , πάσῃ τῇ κτίσει – Mc 16.15).

É possível que a coragem desses cristãos tenha sido inspirada pelo derramamento do Espírito Santo na casa de Cornélio (At 10.44-48), evento que demonstrou que Deus não faz acepção de pessoas ( prosōpolēmpsía , προσωποληψία – At 10.34; Rm 2.11).

Assim como Pedro havia visto a salvação alcançar os gentios em Cesareia, agora Antioquia se tornava palco de um novo e vigoroso avanço missionário.

Lucas registra que “a mão do Senhor era com eles” ( cheir Kyriou ēn met’ autōn , χεὶρ Κυρίου ἦν μετ’ αὐτῶν – At 11.21).

A expressão hebraica correspondente yad YHWH (יַד־יְהוָה), usada em textos como Êxodo 15.6, descreve a intervenção poderosa e redentora de Deus.

Não era apenas a eloquência dos pregadores que convencia, mas a presença ativa do Senhor que confirmava a mensagem com graça e poder (Mc 16.20; 1Co 2.4-5).

O resultado foi extraordinário: “grande número creu e se converteu ao Senhor” (At 11.21).

A palavra grega para “converter” é epistrephō (ἐπιστρέφω), que significa “voltar-se” ou “mudar de direção”.

Isso demonstra que os gentios não apenas aceitaram intelectualmente uma nova crença, mas abandonaram seus ídolos (At 14.15; 1Ts 1.9) e se voltaram radicalmente para Cristo.

Se o ministério de Pedro abriu a porta aos gentios em Cesareia, a evangelização em Antioquia representou o primeiro grande esforço coletivo e estruturado de levar o Evangelho ao mundo não judeu.

Foi dali que a Igreja enviaria Barnabé e Paulo em sua primeira viagem missionária (At 13.1-3), estabelecendo Antioquia como o centro missionário da cristandade primitiva.

Portanto, a experiência em Antioquia ensina que a pregação transcultural é fruto da ação do Espírito, que rompe barreiras históricas, culturais e religiosas.

A Igreja, quando se submete ao mover divino, vê o Evangelho prosperar em qualquer cultura, cumprindo a visão de Apocalipse 7.9: uma multidão de todas as tribos, línguas, povos e nações diante do trono do Cordeiro.

3 – Uma Igreja que forma discípulos

A missão não se encerra no ato da conversão, mas se aprofunda no discipulado , conforme a ordem de Jesus: “ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado” ( didáskontēs , διδάσκοντες – Mt 28.20).

Em Antioquia, Barnabé e Saulo permaneceram um ano inteiro instruindo a igreja (At 11.26).

O verbo usado para “ensinar” é didáskō (διδάσκω), que indica não apenas transmissão de conhecimento, mas formação prática de caráter e vida.

Foi nesse contexto de ensino contínuo que os discípulos receberam, pela primeira vez, o nome de “cristãos” ( christianoí , Χριστιανοί – At 11.26).

O sufixo grego -ianós indica pertencimento; logo, ser cristão significava “pertencente a Cristo” ou “seguidor do Ungido ( Christós , Χριστός; heb. Mashiach , מָשִׁיחַ)”.

Essa identidade não surgiu de rótulo cultural, mas da prática constante de viver como discípulos moldados pelo Evangelho (Lc 6.40; Jo 8.31).

Além do ensino, a igreja em Antioquia também expressou solidariedade prática.

Quando Ágabo profetizou a grande fome que viria sobre o mundo (At 11.28), os discípulos decidiram enviar ajuda aos irmãos da Judeia “cada um conforme o que pudesse” (At 11.29).

O termo usado aqui para “socorro” é diakonía (διακονία), traduzido como “serviço”, mostrando que discipulado autêntico inclui amor ao próximo e partilha generosa (2Co 8.4; Gl 6.10; Tg 2.15-16).

Assim, Antioquia nos ensina que missão, discipulado e solidariedade não podem ser separados.

O discipulado bíblico forma uma identidade cristã sólida, promove maturidade espiritual (Ef 4.11-13) e gera compaixão prática.

O mesmo Espírito que capacita para anunciar também inspira a cuidar; e a igreja que ensina e reparte reflete o caráter do próprio Cristo, que veio “não para ser servido, mas para servir” ( diakonēsai , διακονῆσαι – Mc 10.45).

3.1 – A base do discipulado

Ao ouvir que o Evangelho havia alcançado Antioquia, a igreja de Jerusalém enviou Barnabé para confirmar e fortalecer os novos convertidos (At 11.22).

Ao chegar, ele “viu a graça de Deus” ( charin tou Theou , χάριν τοῦ Θεοῦ – At 11.23), expressão que mostra a ação visível da graça transformadora operando naquela comunidade. Barnabé, homem “cheio do Espírito Santo e de fé” (At 11.24), não apenas observou, mas exortou os irmãos a permanecerem firmes no Senhor.

O verbo grego usado para “exortar” é parakaleō (παρακαλέω), que significa “encorajar, consolar, fortalecer”, sendo o mesmo termo ligado ao título do Espírito Santo como Paráklētos (παράκλητος, Jo 14.16), “Consolador”.

Percebendo a necessidade de aprofundamento doutrinário, Barnabé buscou Saulo em Tarso para ajudá-lo na tarefa (At 11.25). Juntos, permaneceram um ano inteiro ensinando a igreja (At 11.26).

O verbo didáskō (διδάσκω), “ensinar”, não se refere apenas à transmissão intelectual de informações, mas ao processo de formar discípulos ( mathētēs , μαθητής), que no contexto bíblico é “aquele que aprende seguindo um mestre com a vida”.

Jesus havia ordenado: “ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho mandado” (Mt 28.20), mostrando que discipulado é formação integral, que inclui obediência e prática.

Esse episódio revela que não basta evangelizar, é preciso discipular.

A evangelização gera filhos espirituais, mas o discipulado os faz crescer em maturidade (Ef 4.11-13; 2Pe 3.18).

Sem ensino sólido, a igreja se torna vulnerável a ventos de doutrina (Ef 4.14) e ao esfriamento espiritual (Hb 5.12-14).

Em Antioquia, o discipulado fortaleceu a fé, consolidou a identidade dos crentes — que pela primeira vez foram chamados “cristãos” ( christianoí , Χριστιανοί – At 11.26) — e preparou a igreja para sua futura vocação missionária (At 13.1-3).

Portanto, a base do discipulado é a fidelidade à Palavra e a ação do Espírito Santo, que juntos geram crescimento saudável e duradouro.

A igreja que apenas ganha almas, mas não ensina, produz imaturidade; mas a que discipula, gera discípulos firmes, capazes de ensinar outros também (2Tm 2.2).

3.2 – Denominados de “cristãos”

Na trajetória da Igreja primitiva, os seguidores de Jesus receberam diferentes designações que expressavam sua identidade espiritual.

Em Jerusalém, eram chamados de “irmãos” ( adelphoí , ἀδελφοί – At 1.16), destacando a nova família espiritual formada em Cristo (Mc 3.35; Hb 2.11).

Também foram chamados de “crentes” ( pisteúontes , πιστεύοντες – At 2.44), indicando aqueles que depositaram fé em Jesus como o Messias e Senhor (Jo 3.16; At 16.31).

Outra designação comum era “discípulos” ( mathētai , μαθηταί – At 6.1), termo que implica aprendizado contínuo e obediência prática ao Mestre (Lc 14.27; Jo 8.31).

Além disso, eram vistos como “santos” ( hagioi , ἅγιοι – At 9.13), porque haviam sido separados para Deus, refletindo a santidade do próprio Cristo (1Pe 1.15-16; Ef 1.1).

Do ponto de vista externo, passaram a ser identificados como os do “Caminho” ( hē hodos , ἡ ὁδός – At 9.2; 19.9,23; 22.4; 24.14,22).

Essa designação provavelmente tem origem nas palavras do próprio Jesus: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14.6). Seguir a Cristo era entendido como trilhar um caminho de discipulado, santidade e missão.

Entretanto, em Antioquia surgiu um novo título: “cristãos” ( christianoí , Χριστιανοί – At 11.26).

Esse termo é formado pelo título grego Christós (Χριστός), equivalente ao hebraico Mashiach (מָשִׁיחַ, “Ungido”), acrescido do sufixo latino -ianus , que designava pertencimento ou lealdade a uma pessoa ou partido.

Assim, ser chamado de cristão significava literalmente “pertencente a Cristo” ou “seguidor do Ungido” .

Esse título não nasceu de uma autoafirmação, mas foi dado pelos de fora, como uma forma de identificação pública dos discípulos de Jesus.

Mais tarde, o termo se consolidou como honra e identidade: “se alguém padece como cristão ( christianós ), não se envergonhe, mas glorifique a Deus por esse nome” (1Pe 4.16).

Em resumo, o nome “cristão” sintetiza a nova identidade do povo de Deus: não apenas aprendizes de um Mestre, mas seguidores reconhecidos do Cristo ressurreto, vivendo sob seu senhorio e refletindo sua glória (Gl 2.20; Cl 3.17).

3.3 – A identidade cristã

O que realmente define um cristão não é um simples nome ou rótulo social, mas a evidência de uma vida transformada pela fé em Cristo, expressa em atitudes, caráter e obediência à Palavra.

Em Antioquia, onde o termo “cristão” ( christianós , Χριστιανός – At 11.26) surgiu pela primeira vez, alguns estudiosos entendem que ele pode ter nascido como apelido pejorativo.

O sufixo latino -ianus indicava pertencimento ou lealdade a um líder, como os “herodianos” ( Hērōdianoí , Ἡρῳδιανοί – Mc 3.6). Assim, “cristãos” seriam os “partidários de Cristo”, um título que, mesmo se usado em tom de escárnio, acabou se tornando símbolo de identidade e honra.

O nome “cristão” aparece em apenas três passagens bíblicas: em Atos 11.26 , quando pela primeira vez os discípulos foram assim chamados em Antioquia; em Atos 26.28 , quando o rei Agripa reconhece a força persuasiva do testemunho de Paulo: “Por pouco me queres persuadir a ser cristão”; e em 1 Pedro 4.16 , onde o apóstolo exorta: “se padece como cristão, não se envergonhe, mas glorifique a Deus por esse nome”.

Nessas três ocorrências, percebemos que ser cristão estava diretamente ligado ao testemunho público e, muitas vezes, ao sofrimento por causa da fé.

Segundo a Escritura, ser cristão é mais do que professar uma crença — é crer em Jesus como o Cristo ( Christós , Χριστός; heb. Mashiach , מָשִׁיחַ – Jo 20.31), abandonar o pecado (Rm 6.1-4; 1Jo 3.9) e receber a salvação como dom da graça ( cháris , χάρις – Ef 2.8-9).

A verdadeira identidade cristã é formada pela união com Cristo (Gl 2.20), pelo selo do Espírito Santo ( sphragízō , σφραγίζω – Ef 1.13) e pela manifestação dos frutos do Espírito na vida diária (Gl 5.22-23).

Assim, ser cristão não é apenas carregar um nome, mas viver de modo que outros possam reconhecer em nós a semelhança com Cristo (At 4.13).

O cristão genuíno é aquele que segue o Caminho (Jo 14.6), confessa Jesus como Senhor (Rm 10.9) e demonstra, em fé, amor e obras, a realidade de que “se alguém está em Cristo, nova criatura é” (2Co 5.17).

Sinopse III

A Igreja de Antioquia não se limitou à evangelização, mas discipulou os novos convertidos, formando-os na fé e consolidando sua identidade em Cristo (At 11.26). Além disso, exerceu solidariedade prática, enviando socorro aos necessitados na Judeia (At 11.29), demonstrando que maturidade espiritual une ensino, comunhão e serviço. Assim, cumpriu o padrão bíblico: crescer “na graça e conhecimento” (2Pe 3.18) e manifestar a fé por meio do amor ( agápē , ἀγάπη – Gl 5.6).

Conclusão

A Igreja de Jerusalém demonstrou caráter missionário mesmo em meio à dispersão provocada pela perseguição (At 8.1-4).

O exemplo desses cristãos nos ensina que a perseguição não paralisa o Evangelho; antes, torna-se instrumento para sua expansão, cumprindo o princípio de Gênesis 50.20: aquilo que o inimigo intentou para o mal, Deus converteu em bem.

O avanço da missão revela a ação soberana do Senhor que conduz sua Igreja segundo o propósito eterno de alcançar todas as nações ( panta ta éthnē , πάντα τὰ ἔθνη – Mt 28.19).

A missão exige visão transcultural , pois Cristo é Senhor universal ( Kyrios pantōn , κύριος πάντων – At 10.36), e não há cultura impermeável ao Evangelho.

Ela também requer discipulado sólido , pois a fé não se limita à conversão inicial, mas se aprofunda no ensino contínuo ( didáskō , διδάσκω – Mt 28.20) e na formação de discípulos ( mathētēs , μαθητής – Jo 8.31).

Além disso, a Igreja deve praticar solidariedade real , como a comunidade de Antioquia que, movida pela profecia de Ágabo, enviou ajuda aos irmãos da Judeia (At 11.29-30).

Essa diaconia ( diakonía , διακονία) mostra que maturidade espiritual se manifesta também no cuidado prático com os necessitados (Gl 6.10; Tg 2.15-16).

Aprendemos que o que sustenta a obra missionária não é uma metodologia sofisticada, mas a graça de Deus ( cháris , χάρις), que capacita pessoas simples e anônimas a cumprirem a grande tarefa (1Co 1.26-29; 2Co 12.9).

O chamado do Senhor não depende da nossa suficiência, mas da sua presença: “A nossa capacidade vem de Deus” (2Co 3.5).

Quem deseja ser usado, Deus capacita; quem se entrega por inteiro, Deus habilita.

Portanto, como Igreja, somos convocados a viver essa mesma consciência missionária: anunciar Cristo a todas as culturas, formar discípulos fiéis e socorrer os necessitados.

Assim cumpriremos integralmente o “Ide” do Senhor, certos de que Ele prometeu: “E eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos” ( heōs tēs synteleías tou aiōnos , ἕως τῆς συντελείας τοῦ αἰῶνος – Mt 28.20).

Revisando o conteúdo

  1. Qual era o foco dos cristãos que foram dispersados?
    Anunciar o Senhor Jesus em qualquer tempo, lugar e circunstância.
  2. Como era a cidade de Antioquia?
    Antioquia era uma cidade cosmopolita, capital da Síria e uma das três mais importantes do Império Romano, com forte influência helênica.
  3. Como os primeiros cristãos contextualizavam a mensagem do Evangelho para os gentios?
    Eles não usavam o Antigo Testamento para provar que Jesus era o Messias prometido, nem mencionavam costumes judaicos, mas enfatizavam que Jesus era o Senhor.
  4. O que o episódio de Atos 11.22,23,24,26 mostra?
    Esse episódio nos mostra que não basta ganhar almas, é preciso ensiná-las; sem o ensino a igreja não cresce em graça e conhecimento.
  5. Qual é o sentido do termo “cristão”?
    O termo “cristão” tem o sentido de “pessoa de Cristo” e se refere à identidade daqueles que seguem, creem e vivem de acordo com os ensinamentos de Jesus. 

📌 Aplicação Prática da Lição

A missão não é uma opção, mas a própria essência da Igreja (At 1.8; Mc 16.15).

Somos chamados não apenas a crer, mas a testemunhar.

Pergunte a si mesmo: você tem vivido com intencionalidade missionária em sua cidade, trabalho e família? O verdadeiro cristão é discípulo que faz discípulos (Mt 28.19-20).

Assim como os crentes anônimos de Antioquia, nossa tarefa é anunciar o Evangelho, discipular com fidelidade e servir com amor.

Onde você estiver — no lar, na escola, no comércio, no ambiente profissional — seja testemunha viva de Cristo, lembrando que sua vida pode ser a “Bíblia aberta” que muitos lerão (2Co 3.2-3).

📢 Desafio da Semana

Compartilhe o Evangelho com alguém fora do seu círculo habitual — seja um vizinho, colega de trabalho, estrangeiro ou até mesmo alguém que você encontra no cotidiano (Mc 5.19; At 8.30-35).

Ore pedindo a Deus ousadia ( parrēsía , παρρησία – At 4.29,31) para testemunhar com amor e verdade. Lembre-se: você é chamado a ser luz do mundo e sal da terra (Mt 5.13-16).

Seu testemunho pode ser a porta pela qual Cristo alcançará uma vida.

Seu irmão em Cristo, Pr. Francisco Miranda do Teologia24horas, um jeito inteligente de ensinar e aprender!

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