Jesus e a mulher adúltera – A manifestação da graça em meio à condenação

Jesus e a mulher adúltera

Seja muito bem-vindo(a) à AULA MESTRE | EBD – Escola Bíblica Dominical | Lição 8 – Revista Betel Dominical | 3º Trimestre/2025 .

Este conteúdo foi preparado especialmente para auxiliar você, professor(a) da maior escola do mundo, no planejamento de sua aula, oferecendo suporte pedagógico, didático e teológico.

Com linguagem clara e fundamentação sólida nas Escrituras, este material oferece um recurso adicional que aprofunda o estudo, enriquece a aplicação e amplia a compreensão das verdades bíblicas de cada lição.

É fundamental esclarecer que os textos da AULA MESTRE | EBD | Betel Dominical não são cópias da revista impressa. 

Embora a estrutura de títulos, tópicos e subtópicos siga fielmente o conteúdo oficial, os textos aqui apresentados são comentários inéditos, reflexões aprofundadas e aplicações teológicas elaboradas pelo Pr. Francisco Miranda , fundador do Instituto Bíblico Internacional e do Teologia24horas .

Mesmo para quem já possui a revista impressa, a AULA MESTRE | EBD | Betel Dominical representa uma oportunidade valiosa de preparação, oferecendo uma abordagem teológica e pedagógica mais completa, capaz de fortalecer o ensino e contribuir diretamente para a edificação da Igreja local.

Texto Áureo

“(…) Mulher, onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou?” (João 8.10 – ACF).

O diálogo de Jesus com a mulher adúltera revela a essência da graça.

O termo “condenar” no grego é katakrínō , que significa sentenciar com juízo final.

Ao perguntar se alguém a havia condenado, Cristo expõe a falência da justiça humana e anuncia que somente n’Ele existe verdadeira absolvição (Rm 8.1; Jo 3.17).

Verdade Aplicada

Perdoar uns aos outros como fomos perdoados por Deus em Cristo é uma das marcas do verdadeiro cristão.

O perdão recebido em Cristo deve transbordar em nossas relações.

O verbo grego charízomai , usado em Efésios 4.32 para “perdoar”, tem a mesma raiz de cháris (graça).

Isto significa que perdoar não é mera decisão emocional, mas um reflexo da graça divina que nos alcançou (Cl 3.13).

Objetivos da Lição

  • O primeiro objetivo, “Saber que a culpa expõe e condena os próprios acusadores” , enfatiza que ninguém está isento do pecado. Quando os escribas e fariseus trouxeram a mulher adúltera, Jesus declarou: “Aquele que dentre vós está sem pecado seja o primeiro que atire pedra contra ela” (Jo 8:7). Assim, os acusadores foram envergonhados pela própria consciência (Rm 2:1), mostrando que a culpa condena a todos igualmente diante de Deus (Rm 3:23).
  • O segundo, “Ressaltar que Jesus advoga a nosso favor” , destaca a missão redentora de Cristo, nosso único Advogado diante do Pai. João afirma: “Se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o Justo” (1Jo 2:1). Ele não apenas defendeu a mulher adúltera, mas continua intercedendo pelos seus, garantindo-nos perdão, reconciliação e vida eterna (Rm 8:34; Hb 7:25).
  • O terceiro, “Reconhecer a gravidade de cometer adultério” , lembra que esse pecado fere a santidade do matrimônio instituído por Deus (Gn 2:24) e afronta diretamente a ordem divina: “Não adulterarás” (Êx 20:14). Paulo reforça que os adúlteros não herdarão o Reino de Deus (1Co 6:9-10). O adultério deixa cicatrizes profundas (Pv 6:32-33), mas em Cristo há possibilidade de arrependimento e restauração (Jo 8:11).

Textos de Referência

João 8:4-7, 10-11 (ACF)
4 – E, pondo-a no meio, disseram-lhe: Mestre, esta mulher foi apanhada, no próprio ato, adulterando.
5 – E, na lei, nos mandou Moisés que as tais sejam apedrejadas. Tu, pois, que dizes?
6 – Isto diziam eles, tentando-o, para que tivessem de que o acusar. Mas Jesus, inclinando-se, escrevia com o dedo na terra.
7 – E, como insistissem, perguntando-lhe, endireitou-se, e disse-lhes: Aquele que dentre vós está sem pecado seja o primeiro que atire pedra contra ela.
10 – E, endireitando-se Jesus e não vendo ninguém mais do que a mulher, disse-lhe: Mulher, onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou?
11 – E ela disse: Ninguém, Senhor. E disse-lhe Jesus: Nem eu também te condeno; vai-te, e não peques mais.

Leituras Complementares

  • Segunda | Jo 8.7 – Que não tem pecado atire a primeira pedra.
  • Terça | 1Jo 2.1 – Jesus, nosso Advogado junto ao Pai.
  • Quarta | Ap 12.10 – Satanás nos acusa.
  • Quinta | 1Jo 1.7 – O Sangue de Jesus nos purifica de todo pecado.
  • Sexta | Êx 20.14 – Não adulterarás.
  • Sábado | Pv 6.32,33 – O adultério deixa cicatrizes profundas.

Hinos Sugeridos

Os Hinos 255, 311 e 484 da Harpa Cristã dialogam diretamente com a mensagem da Lição 8, pois destacam a graça perdoadora de Cristo em meio à condenação e a nova vida que Ele oferece.

  • O Hino 255 – “Graças Dou” celebra o perdão e a misericórdia de Deus, lembrando-nos de que, em Cristo, não há mais condenação para os que se arrependem (Rm 8:1).
  • O Hino 311 – “Cristo, o Fiel Amigo” ressalta Jesus como o Advogado e Defensor fiel, sempre pronto a interceder por nós diante do Pai (1Jo 2:1).
  • Já o Hino 484 – “Sou Forasteiro Aqui” expressa a esperança do crente que, mesmo em meio às acusações e lutas deste mundo, caminha para a pátria celestial pela graça redentora do Senhor.

Motivo de Oração

Oremos para que nosso Pai Celestial nos perdoe, purifique e fortaleça contra o pecado, e que, como receptores da graça, possamos também liberar perdão aos outros.

Introdução

Hoje contemplaremos um exemplo vívido da verdade proclamada em João 3:17: “Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que condenasse (κρίνῃ – krinē, julgar, sentenciar) o mundo, mas para que o mundo fosse salvo (σωθῇ – sōthē, resgatado, libertado) por Ele” .

A obra da redenção, consumada na cruz, não relativiza nem ignora a gravidade do pecado ( חַטָּאת – chatta’t , errar o alvo; ἁμαρτία – hamartía , falhar diante da lei divina) nem a necessidade de juízo ( מִשְׁפָּט – mishpāt , justiça; κρίσις – krísis , sentença).

Cristo, porém, assumiu sobre Si a nossa culpa, conforme Isaías 53:5-6, onde o Servo Sofredor é descrito como “traspassado pelas nossas transgressões” ( פָּשַׁע – pasha‘ , rebelião) e “moído pelas nossas iniquidades” ( עָוֹן – ‘avon , distorção, perversidade).

Paulo confirma em 2 Coríntios 5:21: “Àquele que não conheceu pecado (ἁμαρτία), o fez pecado por nós, para que nele fôssemos feitos justiça (δικαιοσύνη – dikaiosýnē) de Deus” .

Assim, em Cristo Jesus, não há condenação ( κατάκριμα – katákrima , sentença condenatória definitiva) para os que estão unidos a Ele pela fé (Rm 8:1).

Essa união vital é expressa no verbo grego ἐν Χριστῷ – en Christō , significando estar em comunhão íntima e inseparável com o Filho de Deus.

Ele é nosso sacrifício expiatório ( ἱλαστήριον – hilastērion , Rm 3:25), Advogado ( παράκλητος – paraklêtos , 1Jo 2:1) e Redentor ( גָּאַל – ga’al , libertador, em hebraico; λυτρωτής – lytrōtēs , em grego, Tt 2:14).

Portanto, o episódio da mulher adúltera ilustra de forma poderosa que a graça não é conivência com o pecado, mas a manifestação do amor divino que salva, justifica e transforma.

A justiça de Deus não foi anulada, mas satisfeita na cruz, e por isso podemos afirmar com segurança: “Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica” (Rm 8:33).

Ponto de Partida

Jesus é o nosso Advogado fiel e perfeito . A Palavra declara: “Se alguém pecar, temos um Advogado (παράκλητος – parákletos, aquele que é chamado para estar ao lado, intercessor) junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo” (1Jo 2:1).

Diferente dos acusadores humanos ou de Satanás, o “acusador dos irmãos” (Ap 12:10), Cristo não apenas defende, mas também justifica (Rm 8:33-34).

Sua defesa é perfeita porque está fundamentada no seu próprio sacrifício expiatório ( ἱλασμός – hilasmós , propiciação, 1Jo 2:2), garantindo-nos plena reconciliação com Deus.

1 – O Adultério: Um pecado com consequências e feridas profundas

O adultério não é apenas uma falha conjugal ou moral, mas uma afronta direta à santidade e à aliança de Deus com Seu povo.

A Escritura declara: “Venerado seja entre todos o matrimônio e o leito sem mácula; porém, aos que se dão à prostituição e aos adúlteros Deus os julgará” (Hb 13:4).

No Antigo Testamento, a gravidade do adultério exigia sentença de morte: “Quando um homem adulterar com a mulher do seu próximo, certamente morrerão o adúltero e a adúltera” (Lv 20:10; cf. Dt 22:22).

O termo hebraico usado para adultério é נָאַף ( nā’af ) , que significa “violar o pacto matrimonial” (Êx 20:14; Dt 5:18).

No grego do Novo Testamento, a palavra é μοιχεία ( moicheía ) , indicando corrupção, infidelidade e a quebra de um pacto sagrado.

Jesus amplia o mandamento mostrando que o adultério começa no coração: “Qualquer que olhar para uma mulher com intenção impura já em seu coração cometeu adultério com ela” (Mt 5:28).

O termo grego para “cobiçar” é ἐπιθυμέω ( epithyméō ) , que significa “desejar intensamente”, revelando que o pecado não nasce no ato consumado, mas no desejo cultivado.

O adultério rompe a aliança de “uma só carne” estabelecida por Deus desde a criação (Gn 2:24; Mt 19:6).

Paulo reforça que o corpo do cristão é “templo do Espírito Santo” ( ναὸς τοῦ ἁγίου πνεύματος – naos tou hagiou pneumatos , 1Co 6:19), e, portanto, unir-se a outra pessoa fora do matrimônio é profanar o templo de Deus (1Co 6:15-16).

As consequências do adultério não se limitam ao campo moral, mas deixam feridas profundas emocionais, sociais e espirituais: “O que adultera com uma mulher é falto de entendimento; destrói a sua alma o que tal faz. Achará castigo e vilipêndio, e o seu opróbrio nunca se apagará” (Pv 6:32-33).

O pecado gera culpa ( עָוֹן – ‘avon , perversão, distorção, Sl 32:5) e vergonha, cicatrizes que só a graça de Deus pode restaurar.

No entanto, o mesmo Deus que julga o pecado também oferece perdão e restauração ao arrependido.

Davi, após seu adultério com Bate-Seba, clamou: “Compadece-te de mim, ó Deus, segundo a tua benignidade; apaga as minhas transgressões (פֶּשַׁע – pesha‘, rebelião) segundo a multidão das tuas misericórdias” (Sl 51:1).

No Novo Testamento, o sangue de Cristo nos purifica ( καθαρίζω – katharízō ) de todo pecado (1Jo 1:7), mostrando que, apesar das cicatrizes, há caminho de reconciliação e restauração pelo arrependimento genuíno.

1.1 – Reconhecendo o adultério

O adultério, descrito pelo hebraico נָאַף ( nā’af ) em Êx 20:14, refere-se à quebra da aliança matrimonial, ato visto como infidelidade não apenas ao cônjuge, mas também a Deus (Ml 2:14).

No Novo Testamento, o termo grego μοιχεία ( moicheía ) reforça a ideia de corrupção e violação do pacto de “uma só carne” (Gn 2:24; Mt 19:6).

Jesus, porém, aprofunda o mandamento ao mostrar que o pecado não se limita ao ato consumado, mas nasce na intenção: “Qualquer que olhar para uma mulher com intenção impura já em seu coração cometeu adultério com ela” (Mt 5:28).

O verbo grego usado, ἐπιθυμέω ( epithyméō ) , significa desejar intensamente, revelando que o adultério é antes de tudo uma disposição pecaminosa do coração (Jr 17:9; Tg 1:14-15).

1.2 – O adultério afronta o criador

O adultério não é apenas falha moral, mas afronta direta ao Criador que instituiu o matrimônio (Gn 2:24).

O corpo humano é chamado de ναὸς τοῦ ἁγίου πνεύματος ( naós toû Hagíou Pneúmatos ) , “templo do Espírito Santo” (1Co 6:19), e pecar contra ele é profanar aquilo que foi santificado para a glória de Deus.

Por isso, Paulo adverte: “Nem os adúlteros… herdarão o Reino de Deus” (1Co 6:9-10), mostrando que se trata de um pecado com consequências eternas.

O sétimo mandamento — “Não adulterarás” (Êx 20:14; Dt 5:18) — usa o termo hebraico נָאַף ( nā’af ) , que denota não só infidelidade conjugal, mas também idolatria espiritual (Jr 3:9; Ez 16:32), pois trair o cônjuge é reflexo de trair a aliança com o próprio Deus.

Assim, a prática do adultério atinge a dimensão espiritual, moral e escatológica, colocando o pecador debaixo do juízo divino (Gl 5:19-21; Hb 13:4).

1.3 – O sexo foi criado por Deus

A sexualidade humana é dom sagrado do Criador, planejada como expressão da unidade conjugal.

Em Gênesis 2:24, o verbo hebraico דָּבַק ( dāvaq ) , “apegar-se”, descreve a união indissolúvel entre marido e mulher, resultando em “uma só carne”.

Essa aliança é reafirmada por Jesus em Mateus 19:5-6, mostrando que o propósito divino para o sexo é fortalecer o vínculo conjugal e refletir a fidelidade de Deus ao Seu povo (Ef 5:31-32).

O sábio declara que “melhor é serem dois do que um” (Ec 4:9-12), apontando para o benefício mútuo e a edificação do casal.

No Novo Testamento, o termo grego συνευλαβεῖν ( syneulabeîn ) , ligado ao cuidado mútuo, mostra que a intimidade conjugal deve ser vivida em amor e honra (1Pe 3:7; Hb 13:4).

Quando deturpada pelo pecado, a sexualidade se converte em instrumento de destruição (Rm 1:24-27), mas, sob a bênção do Criador, torna-se fonte de alegria, comunhão e perpetuação da vida (Pv 5:18-19; Sl 128:3-4).

📌 Até aqui, aprendemos que: o adultério, do hebraico nā’af e do grego moicheía , é afronta direta à santidade de Deus, pois rompe a aliança estabelecida no matrimônio e macula o corpo que é templo do Espírito Santo (Êx 20:14; 1Co 6:19). Embora deixe cicatrizes profundas, Cristo, nosso Advogado fiel (1Jo 2:1), oferece perdão e restauração àquele que se arrepende sinceramente (Sl 51; Jo 8:11).

2 – Perdoador ou acusador?

A cena narrada em João 8:3-6 revela o contraste entre a hipocrisia dos acusadores e a graça do Redentor.

Os escribas e fariseus, agindo com malícia, expõem a mulher adúltera não para cumprir a Lei, mas para tentar o próprio Cristo.

O verbo grego usado em João 8:6 é πειράζοντες ( peirázontes ) , “tentando, pondo à prova”, o mesmo empregado para descrever a ação do diabo no deserto (Mt 4:1), mostrando que, por trás dos religiosos, estava o mesmo espírito acusador.

Na Escritura, Satanás é chamado de κατήγωρ ( katēgor ) , “acusador” (Ap 12:10), termo que no grego traz a ideia de levantar acusações formais em tribunal.

Desde Jó 1:9-11, ele aparece como aquele que acusa o justo diante de Deus, sem cessar, tentando destruir a comunhão entre o Senhor e Seu povo.

Da mesma forma, ainda hoje o inimigo usa pessoas — até mesmo dentro das igrejas — para semear divisão e condenação (Rm 16:17; 2Co 2:11).

Em contraste, Cristo se manifesta como Παράκλητος ( Paráklētos ) , “Advogado, Consolador” (1Jo 2:1), aquele que é chamado para estar ao lado, defender e interceder.

Enquanto os homens levantam pedras, Jesus inclina-se ao pó (Jo 8:6), sinal de Sua humildade e identificação com a humanidade caída (Gn 2:7; Fp 2:6-8).

Sua palavra desarma os acusadores: “Aquele que dentre vós está sem pecado seja o primeiro que atire a pedra” (Jo 8:7).

O termo grego ἁμαρτία ( hamartía ) , traduzido por “pecado”, significa literalmente “errar o alvo”, recordando que todos falharam diante da justiça divina (Rm 3:23).

Assim, a cena do Templo mostra que o verdadeiro juízo pertence somente a Cristo (Jo 5:22).

Ele não nega a gravidade do pecado, mas revela que a graça supera a condenação (Rm 5:20).

Enquanto o acusador visa a destruição, o Redentor aponta para a restauração: “Nem eu também te condeno; vai-te, e não peques mais” (Jo 8:11).

2.1 – A malícia dos acusadores

Os escribas e fariseus conduziram a mulher adúltera até Jesus não em busca de justiça, mas como artimanha para comprometê-Lo diante do povo (Jo 8:2-5).

O verbo grego συναγαγόντες ( synagagóntes ) , “trazendo”, sugere uma ação deliberada e pública, feita para humilhação e exposição, em contraste com o espírito de restauração que a própria Lei exigia (Lv 19:17-18).

A Lei mosaica determinava que “o homem que adulterar com a mulher de outro… certamente morrerá o adúltero e a adúltera” (Lv 20:10; Dt 22:22).

Ao apresentarem somente a mulher, os acusadores revelaram sua hipocrisia, manipulando a Torá em proveito próprio.

Sua intenção não era zelar pela santidade da comunidade, mas criar uma armadilha teológica e política.

Se Jesus autorizasse o apedrejamento, poderia ser acusado de transgredir a autoridade romana, que reservava para si o direito de aplicar a pena capital (Jo 18:31).

Se absolvesse a mulher, poderia ser acusado de contrariar a Lei de Moisés, que Ele mesmo declarara não ter vindo revogar, mas cumprir ( πληρῶσαι, plērôsai , Mt 5:17).

Esse uso distorcido da Lei ecoa o que o apóstolo Paulo denuncia em 2 Coríntios 3:6: “a letra mata, mas o Espírito vivifica” .

Os líderes religiosos, ao invés de interpretar a Lei em seu propósito pedagógico — revelar o pecado e conduzir a Cristo (Gl 3:24) —, transformaram-na em instrumento de condenação hipócrita.

O termo hebraico שָׂטָן ( śāṭān ) , que significa “acusador” ou “adversário”, aparece aqui na atitude deles, pois agiram como representantes da malícia satânica (Zc 3:1-2; Ap 12:10).

Assim, a malícia dos acusadores expôs não apenas a mulher, mas principalmente seus próprios corações endurecidos, mostrando que o verdadeiro problema não estava apenas na adúltera, mas na perversidade daqueles que, sob aparência de zelo pela Lei, negavam o Deus da graça e da justiça (Is 29:13; Mt 23:27-28).

2.2 – Jesus ignora os acusadores

O evangelista João relata que Jesus, diante da pressão dos fariseus, “inclinando-se, escrevia com o dedo na terra” (Jo 8:6).

O verbo grego usado é ἔγραφεν ( égraphem ) , “escrevia continuamente”, indicando uma ação deliberada e não apressada.

Esse gesto de silêncio desconcertante ecoa Jeremias 17:13: “os que se apartam de mim serão escritos na terra, porquanto abandonam o Senhor, a fonte das águas vivas” .

Muitos estudiosos veem nesse ato uma alusão ao juízo divino sobre os acusadores.

Quando Jesus finalmente se levanta, Sua resposta é devastadora em simplicidade e poder: “Aquele que dentre vós está sem pecado (ἀναμάρτητος, anamártētos) seja o primeiro a atirar a pedra” (Jo 8:7).

O termo ἀναμάρτητος aparece apenas aqui em todo o Novo Testamento e significa literalmente “jamais tendo cometido pecado”.

Assim, Jesus desloca a questão do ato da mulher para a consciência dos acusadores, revelando a universalidade da culpa (Rm 3:23; Sl 14:3).

Esse gesto não apenas desarma a malícia dos fariseus, mas também manifesta a justiça divina, que é imparcial (Dt 10:17; Rm 2:11).

A Lei mosaica permitia o apedrejamento somente se as testemunhas fossem as primeiras a executar a pena (Dt 17:7).

Porém, ao exigir perfeição moral dos juízes, Jesus revela que ninguém, exceto Ele, poderia lançar a primeira pedra, pois somente Cristo é o Santo sem pecado (Hb 4:15; 1Pe 2:22).

O silêncio de Jesus contrasta com a voz do acusador. Em Apocalipse 12:10, Satanás é descrito como aquele que “acusava ( kategórei ) os nossos irmãos… dia e noite”.

Mas, diante do trono de Deus, Cristo é o Paráklētos (1Jo 2:1), o Advogado que intercede em favor dos pecadores.

Assim, ignorando os fariseus, o Mestre ensina que a verdadeira justiça não nasce da acusação, mas da santidade e da graça de Deus (Rm 8:33-34).

2.3 – O advogado fiel

Quando os acusadores trouxeram a mulher adúltera, ela estava diante da morte iminente.

Mas no meio daquela cena, encontrou não apenas um mestre da Lei, mas o Advogado eterno .

O apóstolo João declara: “Se alguém pecar, temos um Advogado (παράκλητος, paráklētos) junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo” (1Jo 2:1).

O termo παράκλητος significa “aquele chamado para estar ao lado, interceder, defender”, uma figura jurídica usada para descrever a atuação de Cristo em favor dos culpados.

Diferente dos fariseus, que usaram a Lei como instrumento de condenação, Jesus revelou o coração do Pai: “Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica” (Rm 8:33).

Paulo prossegue: “Cristo é quem morreu, ou antes quem ressuscitou, o qual está à direita de Deus, e também intercede (ἐντυγχάνει, entynchanei) por nós” (Rm 8:34).

O verbo ἐντυγχάνω descreve a ação de pleitear em favor de alguém diante de uma autoridade superior.

Na cruz, Jesus não relativizou o pecado — Ele o assumiu . Como diz 2 Coríntios 5:21: “Aquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça de Deus” .

O peso da culpa da mulher adúltera foi antecipação do que Cristo carregaria vicariamente por toda a humanidade (Is 53:5-6).

O contraste é claro: Satanás, chamado em Apocalipse 12:10 de “ὁ κατήγωρ, ho katēgor” , o acusador dos irmãos, aponta o pecado para condenar.

Cristo, porém, aponta o pecado para perdoar e transformar, aplicando a justiça que flui da cruz e não do apedrejamento.

Podemos imaginar o coração da mulher batendo em desespero, aguardando a primeira pedra.

Mas o silêncio dos acusadores deu lugar à voz do único que tinha autoridade moral para julgar.

E Ele, o Justo, declarou: “Nem eu também te condeno; vai-te e não peques mais” (Jo 8:11).

Ali, ela encontrou o Advogado que jamais perde uma causa, porque Seu argumento final é o sangue derramado (1Jo 1:7; Hb 12:24).

📌 Até aqui, aprendemos que: ainda que os homens usem a Lei para acusar e condenar, somente Cristo, o Paráklētos (1Jo 2:1), tem autoridade para justificar (Rm 8:33) e libertar (Jo 8:36). Ele expõe a hipocrisia dos acusadores, silencia a voz do katēgor (Ap 12:10) e revela que a verdadeira justiça não é vingativa, mas redentora, conduzindo o pecador ao arrependimento e à vida nova em Deus.

3 – Jesus nos ensina a perdoar

A resposta de Jesus à mulher adúltera — “Nem eu também te condeno; vai-te e não peques mais” (Jo 8:11) — é uma síntese perfeita da união entre graça ( χάρις, cháris ) e verdade ( ἀλήθεια, alḗtheia ), exatamente como João já havia descrito no prólogo: “Porque a lei foi dada por Moisés; a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo” (Jo 1:17).

Nesse gesto, vemos que Cristo não nega a gravidade do pecado, mas oferece um caminho de restauração.

Pedro ecoa essa exigência quando diz: “Sede santos, porque Eu sou santo” (1Pe 1:15-16), citando Levítico 11:44, onde o hebraico usa qādôsh (קָדוֹשׁ) — separado, consagrado para Deus.

Assim, o perdão recebido em Cristo não é licença para continuar no erro, mas chamado a uma vida santa.

Paulo reforça: “Havemos de permanecer no pecado, para que a graça seja mais abundante? De modo nenhum! Nós que estamos mortos para o pecado, como viveremos ainda nele?” (Rm 6:1-2).

O verbo usado para perdoar , no grego, é ἀφίημι ( aphiēmi ), que significa literalmente “deixar ir”, “libertar”, “cancelar uma dívida”.

É o mesmo termo usado na oração do Pai Nosso: “Perdoa-nos as nossas dívidas” (Mt 6:12).

Jesus não apenas retirou a condenação daquela mulher, mas cancelou sua dívida moral diante de Deus , abrindo-lhe uma nova chance de viver em novidade de vida (2Co 5:17).

Ao instruí-la com a ordem: “Não peques mais” , Ele estabeleceu o padrão do discipulado.

O perdão não é apenas um ato momentâneo, mas um processo transformador que conduz à santificação (Hb 12:14).

A vida cristã não pode ser marcada por repetições deliberadas do pecado, mas por um rompimento radical com as obras da carne (Gl 5:19-21) e a produção do fruto do Espírito (Gl 5:22-23).

Além disso, Jesus usou a situação para ensinar seus discípulos sobre a centralidade do perdão no Reino de Deus.

Ele mesmo havia declarado: “Se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai não vos perdoará as vossas ofensas” (Mt 6:15).

O discípulo que foi alcançado pela graça deve se tornar um canal de graça para outros.

Assim como a mulher adúltera experimentou o perdão, a Igreja é chamada a refletir o caráter misericordioso do Pai (Ef 4:32; Cl 3:13).

Portanto, o perdão em Cristo é libertador e transformador: retira o peso da condenação, mas também confere poder para viver em santidade .

Ele é o fundamento da vida cristã e a marca essencial de todo discípulo autêntico do Senhor Jesus.

3.1 – Perdão, uma expressão de amor

Perdoar não é sinal de fraqueza, mas manifestação do amor divino ( agápē , ἀγάπη), derramado em nossos corações pelo Espírito Santo (Rm 5:5).

O termo grego para perdão, aphiēmi (ἀφίημι), significa “libertar”, “deixar ir”, como alguém que solta uma dívida (Mt 6:12).

No hebraico, a palavra sālach (סָלַח), usada no AT, expressa o ato divino de remover a culpa (Nm 14:19).

Em João 8:11, Jesus mostra que o perdão não anula a justiça, mas a cumpre em Si mesmo (2Co 5:21).

Sua pergunta — “Mulher, onde estão os teus acusadores?” — restaura a dignidade daquela vida humilhada.

O perdão de Cristo liberta não apenas da condenação humana, mas da escravidão do pecado (Jo 8:36).

Assim, perdoar é imitar o Pai, que nos reconciliou em Cristo (Ef 4:32; Cl 3:13).

O perdão é expressão suprema do amor que cobre multidão de pecados (1Pe 4:8).

3.2 – Perdoados e perdoando

O perdão recebido em Cristo deve gerar em nós a disposição de perdoar.

O apóstolo Paulo ordena: “suportando-vos uns aos outros, e perdoando-vos uns aos outros… assim como Cristo vos perdoou, assim fazei vós também” (Cl 3:13).

O verbo grego charízomai (χαρίζομαι), traduzido como “perdoar”, deriva de cháris (χάρις, graça), indicando que o perdão é ato gratuito, fruto da graça recebida (Ef 4:32).

Jesus exemplifica essa verdade ao libertar a mulher adúltera (Jo 8:11).

Ele não apenas a livrou da morte, mas revelou que o perdão divino deve ser compartilhado.

O cristão que retém mágoas contradiz sua nova identidade em Cristo, pois fomos reconciliados com Deus para também reconciliar (2Co 5:18-19).

No hebraico, kippēr (כִּפֵּר, expiar) expressa o ato de cobrir ou remover o pecado (Lv 16:30), antecipando a obra perfeita de Cristo.

Assim, quem experimentou tal perdão não pode negar a mesma graça ao próximo (Mt 18:21-22).

3.3 – Compreendendo o perdão

O perdão bíblico é mais que um sentimento: é expressão da eleos (ἔλεος, misericórdia) e da oiktirmós (οἰκτιρμός, compaixão) de Deus.

Jesus declara que não veio krínein (κρίνω, condenar), mas sōsai (σῴζω, salvar) os pecadores (Jo 3:17).

Essa verdade se evidencia na cena da mulher adúltera, quando Cristo expõe a hipocrisia dos fariseus (Jo 8:7-9), mostrando que quem carrega culpa tende a ser o mais severo acusador (cf. 1Rs 3:22-26).

A justiça divina não se fundamenta em parcialidade humana, mas na graça que conduz ao arrependimento (Rm 2:4).

Assim, o cristão é chamado a oferecer aos outros o mesmo perdão que recebeu do Pai (Cl 3:13).

Como afirma João, não há coerência em amar a Deus e odiar o irmão (1Jo 4:20-21).

De fato, o perdão é o “óleo” que mantém vivos os relacionamentos cristãos.

Negá-lo é andar na contramão do Evangelho, mas praticá-lo é refletir o caráter de Cristo, que nos perdoou plenamente na cruz (Lc 23:34; Ef 4:32).

📌 Até aqui, aprendemos que: o perdão é ato de misericórdia que reflete o caráter de Deus. Cristo não nos condena, mas nos chama à restauração (Jo 8:11). Assim como recebemos aphesis (ἄφεσις, perdão, liberação) do Pai, devemos estender esse mesmo perdão aos outros (Cl 3:13; Ef 4:32). Negar o perdão é contradizer o Evangelho; praticá-lo é viver como verdadeiros discípulos de Jesus (Mt 6:14-15).

Conclusão

Nesta lição, compreendemos que o adultério não é apenas uma falha moral ou conjugal, mas um pecado que afronta diretamente a santidade de Deus ( qōdesh – קֹדֶשׁ, “separação, santidade”, Hb 13:4).

Desde o Antigo Testamento, o adultério era visto como quebra de aliança, trazendo consequências sociais, espirituais e até físicas (Lv 20:10; Dt 22:22).

No Novo Testamento, Jesus amplia a compreensão, mostrando que sua raiz está no coração ( kardía – καρδία, Mt 5:28), revelando que o pecado começa na intenção interna antes de se manifestar na prática.

No episódio da mulher adúltera (Jo 8:1-11), vimos o contraste entre a acusação humana e a graça divina.

Os fariseus e escribas usaram a Lei ( nómos – νόμος) como instrumento de condenação seletiva e hipócrita, mas Jesus, o Justo ( díkaios – δίκαιος, 1Jo 2:1), assumiu o papel de Advogado e Redentor, demonstrando que Ele não veio para condenar, mas para salvar ( sōzō – σώζω, Jo 3:17).

Sua resposta – “Nem eu também te condeno; vai e não peques mais” – une graça ( cháris – χάρις) e verdade ( alētheia – ἀλήθεια), mostrando que o perdão divino não relativiza o pecado, mas abre caminho para transformação e santidade (Jo 1:14; 1Pe 1:15-16).

Portanto, aprendemos que o pecado deixa cicatrizes profundas, mas a benignidade, paciência e longanimidade de Deus ( makrothymía – μακροθυμία, Rm 2:4) nos conduzem ao arrependimento.

Como discípulos de Cristo, somos chamados a viver na prática do perdão recebido (Cl 3:13), proclamando que somente em Jesus há verdadeira restauração ( apokatástasis – ἀποκατάστασις, At 3:21).

Assim, ao rejeitarmos o caminho do pecado e abraçarmos a graça do Evangelho, manifestamos diariamente o amor e a misericórdia do Senhor, com os quais fomos alcançados (Ef 2:4-5).

Perguntas para reflexão e aplicação:

  1. Como a atitude de Jesus diante da mulher adúltera nos ensina a lidar com os pecadores em nossa comunidade?
  2. De que maneira a compreensão do perdão recebido em Cristo deve influenciar sua prática de perdoar?
  3. Por que o perdão divino está sempre ligado ao chamado à santidade?

Versículo-chave para reflexão

“Portanto, agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus” (Rm 8.1 – ACF).

Aplicação prática

A Igreja, como corpo de Cristo ( sōma Christou – σῶμα Χριστοῦ, 1Co 12:27), deve refletir o caráter de seu Senhor: cheia de graça ( cháris – χάρις) e de verdade ( alētheia – ἀλήθεια, Jo 1:14).

Não fomos chamados a exercer juízo precipitado ( krísis – κρίσις), mas a ministrar reconciliação ( katallagē – καταλλαγή, 2Co 5:18-19).

Assim como Jesus não ignorou o pecado da mulher adúltera, mas também não a condenou, a Igreja precisa manter o equilíbrio entre a firmeza doutrinária (Gl 6:1) e a compaixão que restaura (Jo 8:11).

O mundo deve encontrar no povo de Deus um espaço de acolhimento e perdão, não de exclusão e legalismo (Rm 15:7).

Confrontar o pecado é necessário, mas sempre com o propósito de conduzir ao arrependimento ( metanoia – μετάνοια, At 3:19) e à transformação pelo Espírito Santo (2Co 3:18).

Dessa forma, a comunidade cristã se torna sinal visível do Reino, onde a graça supera a acusação e a misericórdia triunfa sobre o juízo (Tg 2:13).

Desafio da semana

Nesta semana, escolha alguém com quem você guarda ressentimento ou tem dificuldade de perdoar.

Coloque essa pessoa diante do Senhor em oração ( proseuchomai – προσεύχομαι) e lembre-se de que “assim como o Senhor vos perdoou, assim fazei vós também” (Cl 3:13).

Perdoar ( aphíēmi – ἀφίημι) significa “deixar ir”, “cancelar uma dívida”, e essa é a atitude que Cristo teve conosco ao remover a nossa culpa na cruz (Ef 4:32; Mt 18:21-22).

Dê um passo prático: libere perdão em oração e, se possível, procure reconciliar-se (Mt 5:23-24).

Lembre-se: o perdão não é apenas um ato humano, mas uma expressão do caráter de Deus em nós.

Quando liberamos perdão, vencemos a raiz de amargura (Hb 12:15) e testemunhamos ao mundo que o Evangelho é poder de restauração.

Seu irmão em Cristo, Pr. Francisco Miranda do Teologia24horas, um jeito inteligente de ensinar e aprender!

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