O encontro de Jesus com a mulher samaritana – A água que sacia para sempre

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É fundamental esclarecer que os textos da AULA MESTRE | EBD | Betel Dominical , não são cópias da revista impressa.
Embora a estrutura de títulos, tópicos e subtópicos seja rigorosamente fiel ao conteúdo oficial, os textos apresentados aqui são comentários inéditos, reflexões aprofundadas e aplicações práticas elaboradas pelo Pr. Francisco Miranda , fundador do IBI “Instituto Biblico Internacional” e do Teologia24horas.
Com uma linguagem clara e principalmente teológica, o Pr. Francisco Miranda oferece ao professor da EBD um conteúdo adicional, que aprofunda o estudo, valoriza a aplicação e amplia a compreensão das verdades expostas em cada lição.
Mesmo para quem já possui a revista impressa, a AULA MESTRE | EBD | Betel Dominical é uma oportunidade valiosa para aprofundar o preparo da lição, oferecendo uma abordagem teológica e pedagógica mais rica, que fortalece o ensino e contribui diretamente para a edificação da Igreja local.
Texto Áureo
“Disse-lhe a mulher: Senhor, dá-me dessa água, para que não mais tenha sede e não venha aqui tirá-la” João 4:15.
O pedido da mulher samaritana — “Senhor, dá-me dessa água” (Jo 4:15) — revela inicialmente uma compreensão limitada e literal da oferta de Jesus, semelhante à confusão de Nicodemos sobre o novo nascimento (Jo 3:4).
No grego, a expressão “dá-me” (δός μοι, dos moi ) indica um clamor pessoal, mas ainda motivado por uma expectativa física: evitar o esforço diário de buscar água.
Teologicamente, o texto aponta para a tensão entre o desejo humano por alívio imediato e a promessa divina de saciedade eterna, pois a “água viva” (ὕδωρ ζῶν, hydōr zōn ) simboliza a vida espiritual que flui do Espírito Santo (Jo 7:37-39).
Assim, Cristo conduz a mulher da necessidade material à revelação espiritual, mostrando que a verdadeira sede do ser humano é de reconciliação com Deus, e que apenas Ele pode saciá-la definitivamente.
Verdade Aplicada
O encontro de Jesus com a mulher samaritana expressa que o surpreendente Amor de Deus não faz acepção de pessoas.
A afirmação de que o encontro de Jesus com a mulher samaritana expressa que o amor de Deus não faz acepção de pessoas está profundamente enraizada na revelação bíblica.
O termo “acepção” traduz o grego προσωπολημψία ( prosōpolēmpsía ), literalmente “receber a face”, ou julgar segundo a aparência externa, algo que Deus rejeita (At 10:34; Tg 2:1).
Ao dialogar com uma mulher — algo incomum para um mestre judeu — e ainda samaritana, pertencente a um povo desprezado (Jo 4:9), Jesus quebra barreiras de gênero, etnia e religiosidade.
Teologicamente, esse gesto encarna o amor inclusivo do Pai, que “quer que todos os homens se salvem” (1Tm 2:4), demonstrando que a graça não é condicionada por status social, origem ou passado, mas está aberta a todos que creem.
Objetivos da Lição
O primeiro objetivo, “Reconhecer que o Evangelho de Jesus não faz acepção de pessoas” , destaca a universalidade da salvação, conforme Atos 10:34-35, onde Pedro afirma que Deus não julga segundo aparência, mas acolhe todo o que O teme e pratica a justiça.
O segundo, “Saber que Jesus jamais nos abandona” , ecoa a promessa de Mateus 28:20 — “Eis que eu estou convosco todos os dias” — revelando a presença contínua e fiel de Cristo mesmo em contextos de rejeição ou desprezo, como no caso da samaritana.
O terceiro, “Compreender que a conversão da samaritana alcançou muitos do seu povo” , aponta para o caráter missionário da fé genuína: quem é transformado por Cristo torna-se testemunha eficaz, como ela, cujo relato levou muitos a crer (Jo 4:39-42), cumprindo o princípio de que a graça recebida deve ser compartilhada.
Textos de Referência
João 4:7-10, 13-14, 25-26
7 – Veio uma mulher de Samaria tirar água. Disse-lhe Jesus: Dá-me de beber.
8 – (Porque os seus discípulos tinham ido à cidade comprar comida.)
9 – Disse-lhe, pois, a mulher samaritana: Como, sendo tu judeu, me pedes de beber, a mim, que sou mulher samaritana? (Porque os judeus não se comunicam com os samaritanos.)
10 – Jesus respondeu, e disse-lhe: Se tu conheceras o dom de Deus, e quem é o que te diz: Dá-me de beber; tu lhe pedirias, e ele te daria água viva.
13 – Jesus respondeu, e disse-lhe: Qualquer que beber desta água tornará a ter sede;
14 – Mas aquele que beber da água que eu lhe der nunca terá sede, porque a água que eu lhe der se fará nele uma fonte de água que salte para a vida eterna.
25 – A mulher disse-lhe: Eu sei que o Messias (que se chama o Cristo) vem; quando ele vier, nos anunciará tudo.
26 – Jesus disse-lhe: Eu o sou, eu que falo contigo.
Leituras Complementares
- SEGUNDA | Jo 8.28-39 – O testemunho é importante.
- TERÇA | Jo 4.19 – A samaritana vê Jesus como um profeta.
- QUARTA | Jo 4.39-41 – A samaritana convence a muitos do seu povo.
- QUINTA | Jo 4.14 – Jesus nos oferece a água viva.
- SEXTA | Jo 4.22 – A salvação vem dos judeus.
- SÁBADO | Jo 4.10 – Necessitamos conhecer o dom de Deu
Hinos Sugeridos
Os Hinos 20, 156 e 169 da Harpa Cristã dialogam com a mensagem da Lição 7, pois exaltam Cristo como fonte de salvação e saciedade espiritual.
O Hino 20 – “Firme nas Promessas” enfatiza a confiança na Palavra e no caráter fiel de Deus, assim como a samaritana descobriu no encontro com Jesus.
O Hino 156 – “Mais Perto Quero Estar” expressa o anseio de comunhão íntima com o Senhor, semelhante ao desejo despertado no coração daquela mulher ao ouvir sobre a “água viva”.
Já o Hino 169 – “Fonte És Tu de Toda Bênção” é uma declaração de louvor Àquele que jorra vida e graça sem medida, reforçando o tema de que apenas Cristo pode saciar a sede eterna da alma.
Motivo de Oração
O motivo de oração desta lição nos convida a intercedermos para que a Igreja, como corpo de Cristo, seja instrumento vivo na proclamação do Evangelho, oferecendo a “água viva” que é a própria vida de Cristo (Jo 4:14; Jo 7:37-39).
Teologicamente, isso implica buscar capacitação contínua pelo Espírito Santo, que nos torna fontes transbordantes para um mundo espiritualmente sedento (Is 58:11).
Orar nesse sentido é alinhar-se com a missão de Deus, pedindo sensibilidade para identificar os sedentos, coragem para atravessar barreiras e fidelidade em apresentar Jesus como a única fonte que satisfaz plenamente.
Introdução
O diálogo entre Jesus e a mulher samaritana, junto ao histórico poço de Jacó (Jo 4:5-6), é mais que um simples encontro casual: trata-se de uma manifestação da graça divina que derruba barreiras étnicas (entre judeus e samaritanos – 2Rs 17:24-41; Jo 4:9), sociais (um Rabi dirigindo-se a uma mulher – Jo 4:27) e religiosas (diferenças sobre o local de adoração – Jo 4:20).
Ao apresentar-se como a “fonte de água viva” ( ὕδωρ ζῶν – hydōr zōn , “água corrente, viva, que dá vida” – Jo 4:10,14), Ele cumpre a promessa profética de Jeremias 2:13 e Isaías 55:1, apontando para a salvação que é dom gratuito ( χάρισμα – chárisma , “presente imerecido” – Ef 2:8-9).
Essa água viva simboliza a presença e a obra regeneradora do Espírito Santo (Jo 7:37-39), que sacia plenamente a sede espiritual ( צָמָא – tsamá , “estar sedento, ansiar profundamente” – Sl 42:2).
Essa narrativa é, portanto, uma lição sobre evangelismo pessoal, revelação messiânica e transformação radical de vida (2Co 5:17), mostrando que somente em Cristo se encontra a plenitude da vida eterna (Jo 10:10; 1Jo 5:11-12).
O Poço de Jacó e a Água Viva – Um Paralelo Bíblico e Teológico
O poço de Jacó (Jo 4:6) carrega uma herança histórica e teológica significativa.
Poços, no Antigo Testamento, eram fontes de vida no deserto e frequentemente palco de encontros providenciais — como o de Eliezer e Rebeca (Gn 24:11-27) e o de Jacó e Raquel (Gn 29:1-12).
No hebraico, “poço” ( בְּאֵר – be’ér ) também pode significar “fonte” ou “manancial” (Nm 21:16-17), sugerindo não apenas provisão física, mas também revelação espiritual.
Ao se sentar junto ao poço, Jesus, o Messias prometido ( מָשִׁיחַ – mashíach / Χριστός – Christós ), apresenta-se como o cumprimento das figuras veterotestamentárias.
No Antigo Testamento, Deus é descrito como “a fonte das águas vivas” ( מְקוֹר מַיִם חַיִּים – meqór máyim chayyím – Jr 2:13; 17:13), enquanto no Novo Testamento, Jesus aplica essa linguagem a Si mesmo, usando o termo grego ὕδωρ ζῶν ( hydōr zōn ), que denota água corrente, fresca, vinda de uma nascente, em contraste com águas estagnadas.
O poço, símbolo do acesso limitado à água, contrasta com a fonte interior que Jesus promete: “…a água que eu lhe der se fará nele uma fonte (πηγή – pēgē) de água que salte para a vida eterna” (Jo 4:14).
Essa “vida eterna” ( ζωὴ αἰώνιος – zōē aiōnios ) é o dom espiritual que, pela regeneração do Espírito Santo (Jo 7:37-39; Tt 3:5), transforma o crente em um canal de bênção (Is 58:11).
Assim, o poço de Jacó aponta para a limitação do sistema religioso e para a necessidade de uma fonte superior e eterna, cumprida plenamente em Cristo, o “manancial de águas vivas” que não apenas sacia, mas faz transbordar (Sl 36:9; Ap 22:1-2,17).
Ponto de Partida
O ponto de partida — “Jesus é a única fonte capaz de saciar a sede espiritual” — revela também que Ele não faz acepção de pessoas (At 10:34-35). Ao oferecer a ὕδωρ ζῶν ( hydōr zōn , “água viva”) à mulher samaritana, Jesus rompeu barreiras étnicas, sociais e religiosas (Jo 4:9,27), demonstrando que Sua graça é para todos, independentemente de origem, passado ou status.
No hebraico, Deus é chamado de מְקוֹר מַיִם חַיִּים ( meqór máyim chayyím , “fonte das águas vivas” – Jr 17:13), título que aponta para Sua disposição em saciar todo aquele que tem sede (Is 55:1; Ap 22:17).
Assim, a sede espiritual só é plenamente saciada quando nos aproximamos de Cristo, a πηγή τῆς ζωῆς ( pēgē tēs zōēs , “fonte da vida”), que acolhe e transforma sem discriminação.
1 – O Evangelho é para todos
No capítulo 4 do Evangelho de João, encontramos o extraordinário encontro entre Jesus e uma mulher samaritana (Jo 4:7), em um contexto histórico e religioso marcado por séculos de hostilidade entre judeus e samaritanos (2Rs 17:24-41; Ed 4:1-3).
Para os judeus, os samaritanos eram ritualmente impuros e teologicamente corrompidos, mas Jesus, o Messias ( מָשִׁיחַ – mashíach no hebraico; Χριστός – Christós no grego), rompeu essa barreira ao dialogar com ela (Jo 4:9,27).
Ao oferecer a “água viva” ( ὕδωρ ζῶν – hydōr zōn , “água corrente que dá vida”), cumpriu profecias como Isaías 55:1 e Jeremias 2:13, que apontam para Deus como a fonte que sacia a sede espiritual.
Além disso, Jesus revelou abertamente Sua identidade messiânica (Jo 4:25-26) — algo raro em Seu ministério — mostrando que o plano da salvação não estava restrito a Israel, mas alcançava todas as nações (Gn 12:3; Is 49:6; Ef 2:14-18).
O relato conclui que, pelo testemunho daquela mulher, “muitos samaritanos creram nele” (Jo 4:39-41), ilustrando o princípio de que a salvação é oferecida a todos sem acepção de pessoas ( προσωπολημψία – prosōpolēmpsía , At 10:34; Rm 10:12-13).
Assim, este episódio é um poderoso cumprimento de Atos 1:8, no qual o Evangelho é anunciado “em Jerusalém, em toda a Judeia, em Samaria e até aos confins da terra”.
1.1 – Jesus quebra barreiras e transforma mentalidades
Após o reinado de Salomão, o povo de Israel se dividiu em dois reinos: o do Norte ( Yisra’el , ישראל) e o do Sul ( Yehudáh , יְהוּדָה) (1Rs 12:20).
O Reino do Sul, com capital em Jerusalém, manteve inicialmente a adoração exclusiva a YHWH ( יְהוָה ), preservando o culto no Templo construído por Salomão.
Já o Reino do Norte, governado por Jeroboão I, corrompeu-se rapidamente, estabelecendo bezerros de ouro em Betel e Dã, criando sacerdotes que não eram da linhagem levítica e instituindo festas próprias (1Rs 12:26-33), violando diretamente a Torá (Êx 20:3-5; Dt 12:5-6).
Com a queda de Samaria em 722/721 a.C., o Império Assírio deportou parte da população e introduziu povos estrangeiros (2Rs 17:24-41).
Essa mistura étnica e religiosa originou os samaritanos, que, embora adorassem o mesmo Deus de Israel, o faziam segundo suas próprias tradições, com centro de culto no Monte Gerizim (Jo 4:20).
Essa separação gerou séculos de hostilidade entre judeus e samaritanos, agravada quando o rei judeu João Hircano destruiu o templo samaritano por volta de 128 a.C.
Nesse contexto, a atitude de Jesus, um judeu, dialogando com uma mulher samaritana, rompe barreiras históricas (séculos de rivalidade), étnicas ( ἔθνος – éthnos , “nação, povo”), sociais (homens não falavam publicamente com mulheres estranhas – Jo 4:27) e religiosas .
A surpresa da mulher (Jo 4:9) e a admiração dos discípulos (Jo 4:27) revelam a radicalidade dessa ação.
Cristo, o Μεσσίας ( Messías , “Ungido”, equivalente a Mashíach no hebraico), encarna a verdade de que Deus “não faz acepção de pessoas” ( προσωπολημψία – prosōpolēmpsía , At 10:34-35; Tg 2:1) e veio “buscar e salvar o que se havia perdido” (Lc 19:10).
Ao atravessar Samaria intencionalmente (Jo 4:4), Ele cumpre Isaías 49:6, que anuncia o Servo do Senhor como “luz para as nações” ( גּוֹיִם – goyím ), mostrando que o Evangelho é inclusivo e derruba toda parede de separação (Ef 2:14-16).
O Monte Gerizim e o Culto Samaritano
O Monte Gerizim ( הַר גְּרִיזִים – Har Gerizim ) é uma montanha localizada próxima a Siquém (atual Nablus), citada no Antigo Testamento como lugar de bênção quando Israel entrou na Terra Prometida (Dt 11:29; 27:12). Para os samaritanos, o monte possuía valor sagrado porque, segundo sua tradição, foi o local escolhido por Deus para a adoração, em contraste com Jerusalém.
Após a divisão do reino (1Rs 12), a rivalidade entre o Norte e o Sul se intensificou.
Com a destruição de Samaria e o exílio pelo Império Assírio (2Rs 17), os samaritanos — descendentes de israelitas e povos estrangeiros — consolidaram sua própria identidade religiosa.
Eles aceitavam apenas o Pentateuco samaritano ( תּוֹרָה – Torá ), rejeitando os demais livros do cânon judaico, e afirmavam que o Monte Gerizim, não Jerusalém, era o verdadeiro local de culto a YHWH.
Por volta de 400 a.C., os samaritanos construíram um templo no Monte Gerizim, rivalizando com o Templo de Salomão.
Esse templo foi destruído em 128 a.C. por João Hircano, rei e sumo sacerdote da dinastia hasmoneia, intensificando o ódio entre judeus e samaritanos.
No diálogo de João 4:20, a mulher samaritana levanta a questão do local de adoração, e Jesus responde deslocando o foco do culto de um local físico para uma adoração “em espírito e em verdade” ( ἐν πνεύματι καὶ ἀληθείᾳ – en pneumati kai alētheia , Jo 4:23-24), cumprindo a profecia de Malaquias 1:11 sobre a adoração universal.
Assim, Cristo não nega a história, mas revela que a verdadeira adoração transcende barreiras geográficas, étnicas e institucionais.
1.2 – Jesus cumpre o Ide
João registra que “era-lhe necessário ( ἔδει – édei , ‘era indispensável, necessário por desígnio divino’) passar por Samaria” (Jo 4:4).
Essa “necessidade” não era apenas geográfica, pois muitos judeus, devido à hostilidade histórica (2Rs 17:24-41; Ed 4:1-3), evitavam a rota direta, preferindo contornar pelo lado leste do Jordão.
O texto sugere, antes, uma necessidade teológica e missionária — a mesma urgência expressa no “ Ide ” ( πορευθέντες – poreuthéntes , Mt 28:19) da Grande Comissão, que aponta para um movimento intencional em direção a todos os povos ( ἔθνη – éthnē , “nações, etnias”) sem distinção.
O encontro de Jesus com a mulher samaritana no poço (Jo 4:6-7) revela um ato deliberado de amor e graça ( χάρις – cháris , Ef 2:8), visando confrontar, em misericórdia ( ἔλεος – éleos , Tg 2:13), a sede espiritual ( צָמָא – tsamá , “ter sede profunda”, Sl 42:2) daquela mulher.
A conversa franca sobre sua vida (Jo 4:16-18) não foi para condená-la, mas para conduzi-la ao arrependimento ( μετάνοια – metánoia , mudança de mente e direção, At 3:19) e à fé salvadora.
Ao atravessar barreiras raciais, sociais e religiosas, Cristo encarna a verdade de que o Reino de Deus ( βασιλεία τοῦ θεοῦ – basileía tou Theou ) não está limitado por fronteiras humanas (Is 49:6; Lc 2:32; Ef 2:14-16).
A “muralha de separação” (Ef 2:14) cai diante da presença do Evangelho, cumprindo o propósito profético de Isaías 55:1 e Jeremias 31:31-34, onde a salvação é oferecida livremente a todos os sedentos.
Assim, o “era necessário” de João 4:4 não é apenas uma nota de viagem, mas um testemunho de que a missão de Cristo é movida por obediência ao plano soberano do Pai (Jo 5:19; Lc 19:10).
Essa mesma urgência missionária é transferida à Igreja, chamada a atravessar suas próprias “Samaritanas” — lugares e pessoas que, humanamente, seriam evitados — para cumprir o mandamento de levar as boas-novas “até aos confins da terra” (At 1:8).
1.3 – Jesus socorre os que vão a Ele
O evangelista João registra a tensão histórica: “os judeus não se comunicam com os samaritanos” (Jo 4:9), usando o termo grego συγχράομαι ( sugchráomai ), que significa “usar em comum, ter relações com”, aqui indicando evitar qualquer contato social ou ritual por considerar o outro impuro.
A surpresa da mulher é dupla: primeiro, por um judeu dirigir-lhe a palavra; segundo, por ser uma mulher — e, naquele contexto, de má reputação (Jo 4:17-18) —, algo que a tradição rabínica desaconselhava em público.
Ao perguntar: “Como, sendo tu judeu, me pedes de beber a mim, mulher samaritana?” (Jo 4:9), ela revela desconhecer que estava diante do Salvador do mundo ( σωτήρ τοῦ κόσμου – sotēr tou kósmou , Jo 4:42), o cumprimento da promessa messiânica.
Jesus, porém, não é detido por barreiras sociais, rituais ou morais. Ele encarna João 3:16, mostrando que o amor de Deus é abrangente ( κόσμος – kósmos , “mundo, humanidade”) e que o dom do Filho unigênito ( μονογενής – monogenēs ) é para “todo aquele que nele crê” ( πᾶς ὁ πιστεύων – pas ho pisteúōn ), sem distinção.
As leis cerimoniais judaicas (Lv 15:19-27; Ed 4:1-3) consideravam certos grupos e objetos como ritualmente impuros ( טָמֵא – tamé ), mas Jesus demonstra que a pureza que Ele oferece é interior e permanente (Mt 15:11; Mc 7:15).
Ao aceitar beber da vasilha da samaritana, Cristo rompe com a tradição exclusivista e aponta para a realidade da Nova Aliança, na qual todos são convidados a se aproximar do trono da graça ( θρόνος τῆς χάριτος – thrónos tēs cháritos ) para receber misericórdia (Hb 4:16).
Teologicamente, este encontro cumpre o que está escrito em Isaías 55:1 — “vós, todos os que tendes sede ( צָמָא – tsamá ), vinde às águas” — e prefigura a promessa de Apocalipse 22:17: “Aquele que tem sede venha; e quem quiser, tome de graça da água da vida” ( ὕδωρ τῆς ζωῆς – hydōr tēs zōēs ).
Jesus socorre todos os que vão a Ele (Jo 6:37), pois veio “buscar e salvar o que se havia perdido” (Lc 19:10), mostrando que nenhum rótulo humano é obstáculo para a graça divina.
📌 Até aqui, aprendemos que: o Evangelho é para todos, sem distinção de etnia, gênero ou passado, como demonstrado no encontro de Jesus com a samaritana (Jo 4). Ele quebrou barreiras históricas e religiosas, cumpriu a missão com intencionalidade divina ao passar por Samaria e socorreu, com graça e verdade, aqueles que se aproximam d’Ele, oferecendo a água viva que satisfaz eternamente.
2 – Todos temos sede de Deus
O Filho de Deus ( υἱὸς τοῦ θεοῦ – huiòs tou Theou ) conhece profundamente a natureza humana ( φύσις – phýsis ) e suas necessidades mais profundas (Hb 4:15; Jo 2:24-25), pois Ele “desceu do céu” ( καταβέβηκα ἐκ τοῦ οὐρανοῦ – katabébēka ek tou ouranoû ) para fazer a vontade do Pai (Jo 6:38), cumprindo a missão redentora traçada “antes da fundação do mundo” (1Pe 1:19-20; Ef 1:4-5).
No episódio junto ao poço de Jacó, Jesus revela Sua onisciência ao saber que, em Samaria, justamente naquele lugar, haveria uma mulher sedenta ( צָמֵא – tsamé , no hebraico, “ter sede física e espiritual”; διψάω – dipsáō , no grego, “ansiar, desejar intensamente”) do amor e da aceitação do Pai.
Essa sede não se limita à necessidade física, mas aponta para o anseio da alma por comunhão com Deus (Sl 42:1-2; Sl 63:1; Is 55:1-3).
Quando a mulher responde: “Senhor, dá-me dessa água, para que não mais tenha sede e não venha aqui tirá-la” (Jo 4:15), ela fala a partir de uma compreensão ainda natural, sem perceber que Jesus lhe oferecia a água viva ( ὕδωρ ζῶν – hydōr zōn , “água corrente, que dá vida”), símbolo da salvação e do Espírito Santo (Jo 7:37-39; Is 44:3; Ez 36:25-27).
Assim, a narrativa aponta para uma verdade universal: todos nós temos sede de Deus, mesmo quando não a reconhecemos plenamente.
Essa sede só é saciada quando encontramos Cristo, que promete: “Quem beber da água que eu lhe der nunca mais terá sede” (Jo 4:14), cumprindo a promessa eterna de Apocalipse 21:6 e 22:17 de que, no fim, Ele mesmo será a fonte ( πηγή – pēgē ) inesgotável da vida.
2.1 – Uma mulher desprezada
Jesus estava diante de uma mulher cuja história pessoal revelava rupturas e dores profundas: já havia tido cinco maridos e, no momento, vivia com um homem com quem não era casada (Jo 4:16-18).
No contexto social e religioso do período, tal condição a tornava marginalizada e indigna aos olhos da comunidade.
A lei mosaica previa que o adultério ( נָאַף – na’af , Êx 20:14) e a quebra da aliança matrimonial eram graves transgressões (Dt 24:1-4), e a sociedade judaica e samaritana, influenciada por uma leitura legalista, via tais mulheres como impuras ( טָמֵא – tamé ).
Entretanto, o Messias ( מָשִׁיחַ – mashíach , Χριστός – Christós ) estava ali, junto ao poço, não para condenar (Jo 3:17), mas para preencher o vazio existencial ( κενός – kenós , “vazio, sem valor”) daquele coração.
O convite de Jesus — “Vai, chama o teu marido e vem cá” (Jo 4:16) — não foi uma exposição pública humilhante, mas um ato pastoral de revelação e cura, que confrontou a verdade de sua vida ( ἀλήθεια – alḗtheia ) sem excluir a graça ( χάρις – cháris ).
A possível busca da mulher por afeto e segurança em relacionamentos sucessivos ecoa a realidade espiritual de muitos: tentar saciar a sede interior em fontes secas ( בּוֹר נִשְׁבָּר – bor nishbar , “cisterna rota”, Jr 2:13).
No entanto, naquele encontro, ela entendeu que apenas Jesus é capaz de preencher o vazio existencial, tornando-se nEla “fonte ( πηγή – pēgē ) de água que salta para a vida eterna” (Jo 4:14; cf. Is 58:11).
Esse momento revela o cumprimento de textos como Isaías 61:1-3 — o Ungido veio para “curar os quebrantados de coração” — e prefigura a promessa de Apocalipse 7:17, onde “o Cordeiro os guiará às fontes das águas vivas” ( ὕδατος ζωῆς – hydatos zōēs ).
Assim, Jesus transforma a vergonha em testemunho e a exclusão em aceitação, ensinando que nenhum passado é obstáculo para o agir redentor de Deus.
2.2 – Desprezada pela sociedade
Somente Jesus, o Salvador ( σωτήρ – sotḗr , Lc 2:11; Jo 4:42), poderia pôr fim à tristeza e ao vazio da alma daquela mulher samaritana (Jo 4:14).
Sua história — cinco casamentos fracassados e a convivência atual com um homem fora da aliança matrimonial — a tornava alvo de julgamento não apenas dos judeus, mas também de seu próprio povo.
Em uma cultura regida por rígidas normas morais e religiosas, sua vida era considerada imoral e espiritualmente impura ( טָמֵא – tamé , Lv 15:19-31), relegando-a à marginalização social.
O fato de buscar água sozinha, no calor do meio-dia (Jo 4:6), confirma a observação de F.F. Bruce: possivelmente, ela evitava o convívio feminino habitual junto ao poço, símbolo da exclusão que sofria.
No entanto, ali mesmo, Cristo a encontrou e iniciou um diálogo carregado de graça ( χάρις – cháris ) e verdade ( ἀλήθεια – alḗtheia , Jo 1:14), quebrou barreiras culturais, de gênero e religiosas (Jo 4:9,27) e ofereceu a água viva ( ὕδωρ ζῶν – hydōr zōn , Jo 4:10), imagem profética da vida eterna concedida pelo Espírito Santo (Is 44:3; Ez 36:25-27; Jo 7:37-39).
O encontro revela a essência do amor de Deus ( אַהֲבָה – ahavá , Rm 5:8), que não é condicionado por nossos erros, mas se manifesta para restaurar e transformar.
A atitude de Jesus cumpre Isaías 61:1-3 — “curar os quebrantados de coração” — e ecoa a verdade de João 3:17: “Deus enviou o seu Filho ao mundo não para condenar o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele”.
Assim, a história da mulher samaritana é um retrato da graça que ultrapassa o preconceito, substitui a vergonha pelo testemunho (Jo 4:39) e mostra que, diante do Cordeiro de Deus ( ἀμνὸς τοῦ θεοῦ – amnòs tou Theou , Jo 1:29), não há pecador tão distante que não possa ser alcançado pelo convite: “Quem quiser, tome de graça da água da vida” (Ap 22:17).
2.3 – Somos convidados a adorar a Deus
A tensão entre judeus e samaritanos incluía uma disputa secular sobre o local legítimo de adoração.
Os samaritanos, seguindo sua própria tradição e o Pentateuco samaritano, defendiam o Monte Gerizim ( הַר גְּרִיזִים – Har Gerizim , Dt 11:29; 27:12) como lugar santo.
Já os judeus, baseando-se na escolha divina de Sião ( צִיּוֹן – Tsión , Sl 132:13-14), afirmavam que Jerusalém era o centro legítimo do culto, conforme a ordem para adorar “no lugar que o Senhor escolher” (Dt 12:5-14).
Essa divergência se reflete nas palavras da samaritana: “Nossos pais adoraram neste monte, e vós dizeis que é em Jerusalém o lugar onde se deve adorar” (Jo 4:20).
Jesus, porém, transcende a geografia e as tradições exclusivistas, declarando que “vem a hora, e agora é, em que os verdadeiros adoradores ( ἀληθινοί – alēthinoí , genuínos, legítimos) adorarão ( προσκυνέω – proskyneō , inclinar-se, prostrar-se em reverência) o Pai em espírito ( πνεῦμα – pneûma , aqui não no sentido da terceira Pessoa da Trindade, mas como disposição interior vivificada pelo Espírito Santo) e em verdade ( ἀλήθεια – alḗtheia , realidade, autenticidade)” (Jo 4:23-24).
A afirmação “Deus é Espírito” ( πνεῦμα ὁ θεός – pneûma ho Theós , Jo 4:24) aponta para Sua natureza imaterial, eterna e onipresente (Dt 4:39; 1Rs 8:27; Sl 139:7-10), tornando impossível limitar Sua adoração a um lugar físico ou sistema ritual.
A adoração verdadeira é fruto da regeneração (Jo 3:5-6; Tt 3:5) e só é possível pela obra do Espírito da verdade ( πνεῦμα τῆς ἀληθείας – pneûma tēs alētheías , Jo 14:17), que guia o crente a conhecer e honrar a Deus de forma viva, sincera e bíblica (Fp 3:3).
Assim, o convite de Jesus à mulher samaritana é o mesmo feito à Igreja hoje: abandonar os limites de uma adoração meramente formal ou geográfica e entrar no relacionamento vivo com o Pai, no qual “desde o nascente do sol até ao poente, é grande entre as nações o meu nome” (Ml 1:11).
Na Nova Aliança, todo lugar pode se tornar um “monte santo” (Hb 12:22-24), porque o templo de adoração é o próprio corpo do crente, habitado pelo Espírito Santo (1Co 3:16-17).
📌 Até aqui, aprendemos que: todos têm sede de Deus, pois somente Ele pode satisfazer plenamente a alma sedenta (Sl 42:1-2; Jo 4:14). Jesus acolhe os desprezados pela sociedade, oferecendo perdão, cura e nova vida sem preconceito (Jo 3:17; Is 61:1-3). Ele também nos convida a uma adoração verdadeira, não limitada a lugares físicos, mas realizada em espírito e em verdade (Jo 4:23-24), conduzida pelo Espírito da verdade e fundamentada na revelação bíblica (Fp 3:3; Hb 12:22-24).
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3 – A conversão da mulher samaritana
A mulher samaritana, ao ouvir Jesus revelar aspectos ocultos de sua vida (Jo 4:17-18), responde: “Senhor, vejo que és profeta” ( προφήτης – prophḗtēs , Jo 4:19), termo que no contexto bíblico designa alguém que fala da parte de Deus, discernindo a verdade oculta pelo Espírito (Dt 18:15; Am 3:7).
Essa confissão demonstra o início de uma fé nascente ( πίστις – pístis ), que amadureceria à medida que ela reconhecesse a identidade messiânica de Jesus.
Agostinho de Hipona, refletindo sobre este diálogo, disse: “Aquele que pedia de beber tinha sede da fé daquela mulher” , ecoando João 19:28, onde Jesus, na cruz, declara “Tenho sede” — não apenas física, mas sedento pela reconciliação do homem com Deus (Sl 42:1-2; Lc 19:10).
A revelação culmina quando Jesus afirma: “Eu o sou ( ἐγώ εἰμι – egō eimi ), que falo contigo” (Jo 4:26), usando a expressão que remete ao nome divino revelado a Moisés em Êxodo 3:14 ( אֶהְיֶה אֲשֶׁר אֶהְיֶה – Ehyeh Asher Ehyeh , “Eu sou o que sou”), identificando-se como o Messias prometido (Is 9:6; Mq 5:2).
Essa auto-revelação produz um ponto de virada espiritual: o reconhecimento de que aquele judeu junto ao poço é o Cristo, o Salvador do mundo (Jo 4:42).
Assim, a conversão da mulher samaritana não foi apenas intelectual, mas uma transformação do coração ( לֵב – lev ), que resultou em testemunho público (Jo 4:28-30,39).
Ela se torna exemplo de como a fé começa com a escuta da Palavra (Rm 10:17), é despertada pelo Espírito da verdade (Jo 16:13) e se manifesta em proclamar as grandezas de Deus (1Pe 2:9).
3.1 – Jesus se revela como o Messias
No diálogo com a mulher samaritana, Cristo se identifica claramente como o Messias ( מָשִׁיחַ – Mashíach , “Ungido”) e Cristo ( Χριστός – Christós , equivalente grego), o Enviado de Deus, ao declarar: “Eu o sou ( ἐγώ εἰμι – egō eimi ), que falo contigo” (Jo 4:25-26).
Essa expressão, egō eimi , ecoa a auto-revelação divina a Moisés no Sinai ( אֶהְיֶה אֲשֶׁר אֶהְיֶה – Ehyeh Asher Ehyeh , “Eu sou o que sou”, Êx 3:14), apontando para Sua plena divindade.
No início de Seu ministério terreno, Jesus frequentemente evitava proclamar Sua identidade messiânica de forma pública (Mc 1:43-45; Mc 8:29-30), pois Sua hora ( ὥρα – hōra , Jo 2:4) ainda não havia chegado, e a revelação prematura poderia incitar agitação política ou oposição imediata das autoridades religiosas (Jo 7:30).
A expectativa popular de um Messias libertador político (Jo 6:15; At 1:6) contrastava com a missão espiritual anunciada nas Escrituras (Is 53; Dn 9:24-26).
Contudo, diante da samaritana — uma mulher marginalizada e de um povo desprezado pelos judeus — Jesus não hesitou em declarar Sua identidade.
Isso demonstra que o Reino de Deus rompe barreiras étnicas, sociais e religiosas (Ef 2:14-16) e que a revelação divina é concedida a corações dispostos, não apenas a líderes ou elites religiosas (Mt 11:25-26).
A mulher, ao ouvir e crer (Jo 4:26,29), torna-se imediatamente uma evangelista em sua cidade, cumprindo o princípio de que “quem crê não pode deixar de falar” (At 4:20).
Sua experiência confirma que a verdadeira fé ( πίστις – pístis ) nasce do encontro pessoal com Cristo e leva à proclamação (Rm 10:17; 2Co 5:20).
Conforme observa Severino Pedro da Silva, o ministério profético de Jesus não cessou com Sua ascensão (Lc 4:17-21; At 3:22-23), mas continua por meio do Espírito Santo ( Πνεῦμα Ἅγιον – Pneûma Hágion ) e de Sua Igreja (Jo 16:13-14), que dá testemunho dEle até os confins da terra (At 1:8).
3.2 – A samaritana tinha conhecimento religioso
A mulher samaritana possuía certo conhecimento religioso, fruto de sua tradição e herança cultural, mas esse saber, isolado da revelação viva de Deus, não havia produzido transformação espiritual ( μετάνοια – metánoia , mudança de mente e direção).
No diálogo com Jesus, ela demonstrou:
- Reconhecimento histórico: referiu-se a Jacó ( יַעֲקֹב – Ya‘aqov ), o patriarca, como “pai” dos samaritanos (Jo 4:12), reconhecendo sua ligação com a história de Israel (Gn 33:18-20; Gn 48:22).
- Incerteza doutrinária: expressou dúvida sobre o local legítimo de adoração — se no Monte Gerizim ( הַר גְּרִיזִים – Har Gerizim ), defendido pelos samaritanos (Dt 11:29; Dt 27:12), ou em Jerusalém ( יְרוּשָׁלִַם – Yerushaláyim ), escolhido por Deus para o Templo (Sl 132:13-14; 2Cr 6:6) — revelando a divisão histórica e religiosa entre judeus e samaritanos (Jo 4:20).
- Conhecimento profético: sabia da promessa do Messias ( מָשִׁיחַ – Mashíach , Χριστός – Christós ) que havia de vir, ecoando textos como Deuteronômio 18:15 e Isaías 9:6-7 (Jo 4:25).
Entretanto, como destaca a Revista Betel Dominical (2002) , o simples saber teórico não conduz à verdadeira adoração ( προσκυνέω – proskyneō , prostrar-se em reverência) nem à comunhão com Deus.
O diálogo com Jesus revelou que a adoração genuína depende de conhecer a Deus como Ele é — “em espírito ( πνεῦμα – pneûma ) e em verdade ( ἀλήθεια – alḗtheia )” (Jo 4:24) — e que tal conhecimento não é apenas informativo, mas relacional e transformador (Os 6:6; Fp 3:10).
Assim, a experiência da samaritana ilustra a realidade de muitos que possuem tradições e conceitos religiosos corretos em parte, mas carecem do encontro pessoal com Cristo que converte o saber em vida (2Tm 3:5; Cl 1:9-10).
Somente a revelação do próprio Senhor é capaz de transformar informação em adoração viva e prática (Ef 1:17-18).
3.3 – A primeira missionária
A narrativa da mulher samaritana é notável por ocorrer em um cenário marcado por séculos de hostilidade entre judeus e samaritanos (2Rs 17:24-34; Ed 4:1-3; Jo 4:9).
Aquela mulher, marginalizada socialmente e espiritualmente, experimentou uma transformação tão profunda no encontro com Cristo que, imediatamente, assumiu o papel de proclamadora do Evangelho — tornando-se, na prática, a primeira missionária registrada no ministério de Jesus, antes mesmo de muitos de Seus discípulos (Jo 4:28-29).
Ao deixar o cântaro ( ὑδρία – hydría ), símbolo de sua antiga busca e necessidades terrenas (Jo 4:28), ela demonstra que encontrou a água viva ( ὕδωρ ζῶν – hydōr zōn , Jo 4:10,14) e que sua prioridade agora era anunciar a outros a fonte da vida eterna.
O impacto de seu testemunho — mesmo vindo de alguém antes evitado por causa da reputação — foi tão grande que mobilizou uma cidade inteira a buscar o próprio Cristo (Jo 4:30,39).
O comentário de John MacArthur observa que sua disposição em expor sua história e confessar publicamente o encontro com Jesus trouxe credibilidade ao seu testemunho, despertando curiosidade e fé.
Isso confirma o princípio de Apocalipse 12:11: “Eles o venceram pelo sangue do Cordeiro e pela palavra do seu testemunho”.
Teologicamente, esta passagem também antecipa a Grande Comissão (Mt 28:19-20; At 1:8), mostrando que a missão transcultural — ultrapassando barreiras étnicas, religiosas e de gênero — já estava no coração do ministério de Cristo desde o início.
Uma vida alcançada pela graça ( χάρις – cháris ) pode tornar-se instrumento para alcançar muitos outros (Is 55:11; 2Co 5:17-20).
📌 Até aqui, aprendemos que: a conversão da mulher samaritana revela que Jesus se apresenta como o Messias prometido, conduzindo a fé de quem O ouve para além de barreiras culturais e religiosas. Vemos que é possível ter conhecimento religioso sem transformação real, até que a revelação pessoal de Cristo alcance o coração. Ao ser transformada, a samaritana tornou-se a primeira missionária, demonstrando que uma vida tocada pela graça pode impactar toda uma comunidade com o testemunho daquilo que Cristo fez.
Conclusão
O encontro de Jesus com a mulher samaritana ilustra, de forma viva, que Deus “não faz acepção de pessoas” ( προσωπολημψία – prosōpolēmpsía , “parcialidade”, At 10:34; Rm 2:11; Tg 2:1).
A barreira histórica, cultural e religiosa entre judeus e samaritanos foi quebrada pelo amor redentor de Cristo, que veio “buscar e salvar o que se havia perdido” (Lc 19:10).
O Senhor demonstrou que a missão ( ἀποστολή – apostolḗ ) não está condicionada ao status social, origem étnica ou reputação, mas ao chamado universal da graça ( χάρις – cháris , Tt 2:11).
Assim como aquela mulher, que após o encontro pessoal com Cristo deixou seu cântaro e se tornou portadora da água viva (Jo 4:14,28), somos convocados a aproveitar cada oportunidade ( καιρός – kairós , Ef 5:16) para anunciar uma mensagem cristocêntrica — que proclama Jesus como “o Salvador do mundo” ( σωτήρ τοῦ κόσμου – sotḗr tou kósmou , Jo 4:42; 1Jo 4:14).
Essa proclamação deve ser movida pela convicção de que a Palavra de Deus, quando anunciada, não volta vazia (Is 55:10-11) e de que somos embaixadores ( πρεσβεύω – presbeúō ) de Cristo, reconciliando pessoas com Deus (2Co 5:20).
Reflexão e Aplicação:
- Temos olhado para as pessoas com os olhos de Cristo ou com os filtros da cultura e do preconceito?
- Como temos aproveitado as oportunidades diárias para compartilhar o Evangelho?
- Estamos conscientes de que o testemunho pessoal, mesmo vindo de alguém desprezado socialmente, pode ser usado poderosamente por Deus?
- Em nossa adoração, temos buscado apenas formas e tradições ou uma entrega real “em espírito e em verdade” (Jo 4:23-24)?
Que esta lição nos leve a viver missionalmente, sem barreiras, e a proclamar com ousadia e amor que Jesus é o único que sacia plenamente a sede da alma.
Versículo-chave para reflexão
“E o Espírito e a esposa dizem: Vem. E quem ouve diga: Vem. E quem tem sede venha; e quem quiser, tome de graça da água da vida” (Ap 22:17 – ACF).
Aplicação Prática da Lição
Quebrar barreiras culturais, sociais e religiosas é parte inseparável da missão que Cristo confiou à Sua Igreja. Se Jesus, o Filho de Deus ( Υἱὸς τοῦ Θεοῦ – Hyiós tou Theou ), atravessou Samaria — uma terra evitada pelos judeus — para encontrar uma mulher considerada excluída (Jo 4:4,9), então nós, como Seus discípulos, devemos estar dispostos a ir aonde for necessário para oferecer a água viva ( ὕδωρ ζῶν – hydōr zōn , Jo 4:10,14).
A narrativa ensina que o Evangelho não é apenas uma mensagem a ser proclamada, mas uma vida a ser encarnada, refletindo o amor que não faz acepção ( προσωπολημψία – prosōpolēmpsía , Tg 2:1; At 10:34).
A prática evangelística deve imitar a estratégia de Jesus: proximidade, diálogo e revelação da verdade com graça ( χάρις – cháris ) e verdade ( ἀλήθεια – alḗtheia , Jo 1:14).
Assim, cada crente é chamado a viver intencionalmente, percebendo que as oportunidades para testemunhar são “kairós” — momentos divinamente preparados (Ef 5:16) — nos quais uma vida pode ser transformada, e, por meio dela, toda uma comunidade pode ser impactada (Jo 4:39).
Desafio da Semana
Ore e peça ao Espírito Santo ( Πνεῦμα Ἅγιον – Pneûma Hágion , Jo 14:26) que lhe mostre, entre as pessoas do seu convívio, alguém que esteja espiritualmente sedento (Is 55:1; Mt 5:6).
Interceda diariamente por essa vida, pedindo que Deus prepare o coração dela para receber a Palavra (At 16:14).
Durante esta semana, busque uma oportunidade intencional ( πρόθεσις – próthesis , “propósito firme”) para compartilhar, com amor e clareza, sobre a água viva ( ὕδωρ ζῶν – hydōr zōn ) que é Cristo (Jo 4:14; Ap 22:17), conduzindo essa pessoa a reconhecer que somente Ele pode saciar a sede da alma e conceder a vida eterna (Jo 7:37-38).
Seu irmão em Cristo, Pr. Francisco Miranda do Teologia24horas, um jeito inteligente de ensinar e aprender!
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